terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

No limite!


Dia desses fui à reunião referente à viagem de formatura do Dedé, meu filho mais novo, que irá concluir o ensino médio.
Fui calorosamente recebido pelos seus colegas de classe, que há alguns anos foram meus alunos. É... fui professora de informática educativa deles do 1º ao 9º ano. Eles me abraçaram carinhosamente e começaram a relembrar com saudades das aulas. Um deles disse:
- No limite, minha gente, no limite!
Todos começaram a rir e a repetir essas palavras que por muitos anos eu usava com os alunos.
Mas... o que significava no limite?
Era assim: entre os anos de 1999 a 2005, não tínhamos internet nas aulas de informática. Para torná-las mais atrativas eu levava CDs educativos. Só que era apenas um CD em um único computadorzinho com caixa de som. Na época não tinha data show, então tínhamos que nos virar com aquilo. Eu fazia uma espécie de roda com eles, traçava uma linha imaginária e dizia que aquilo ali era o limite Tinha que fazer isso, porque senão era uma febre de meninos pulando, babando loucamente em cima daquele único computador. O limite era justamente para organizá-los para que todos vissem o que se passava e ia chamando-os individualmente para interagir com um pedacinho do jogo. Assim a turma toda participava.
É claro que quando ficavam maiores, a linha do limite deixava de existir e eles já iam direto para os seus computadores e recebiam as instruções coletivamente, mas nas séries iniciais eu adotava esse procedimento.  Eram momentos marcantes, porque cheguei a receber ligações em casa perguntando sobre qual CD iria aplicar... mas enfim eles cresceram e reencontrei com eles que relembraram “do limite”.
Aqueles jovenzinhos estavam discutindo sobre a viagem de formatura do ensino médio. Confesso que senti um tantinho orgulhosa por fazer parte da história deles e fui lembrada como a professora que dizia: - No limite, minha gente!  Pois limite e amor tem uma forte ligação.
Fiquei pensando ainda. O universo é regido por leis e nós fazemos parte desse universo.  Por exemplo: a lei da gravidade. Quando a desconhecemos e nos atiramos de um alto penhasco, podemos deixar de existir.  A criança não entende bem sobre regras e limites e precisa aprender sobre o mesmo, porém a cada dia que passa essas crianças tem sido largadas numa sociedade sem regras e sem limites e a consequência é de uma sociedade enferma e um planeta doente.
Infelizmente, muitos pais tem se esquecido dessa palavrinha: limites.  Limite é amar. É ensinar. E quando esses meninos são privados disso, talvez pais, vocês não tenham o privilégio de ter esse encontro com jovens cheios de sonhos, desejosos em se formar, ou seja, constituir uma sociedade digna. Não tenha medo em educar, em estabelecer limites, em ensinar o menino. Meu desejo sincero é que você venha participar de reuniões como essa com louvor e saber que não foi negligente, mas fez parte na formação do bom caráter desses meninos.

Lina Linólica
02/2012

Nota:
Se você gostou desse artigo e quer ler algo mais profundo, leia o artigo que escrevi no ano de 2006; Peixes ou Pedras e Cobras.  Talvez eu seja considerada como uma vilã pela sociedade moderna, mas eu fiz o que achei que deveria fazer e afirmo educar filho não é difícil.  Meus meninos hoje estão com 16 e 18 anos. Dedé se formando com mérito, nunca foi reprovado. Nunca fui chamada na escola. Sempre elogiado pelos amigos como educado, coerente, esportista. O Felipe tem 18 anos, está cursando o 2º ano em  engenharia química na Poli (USP). Sempre é elogiado pelos amigos como aquele que compartilha conhecimento e é muito querido. Então...vale a pena investir em seu filho, porque ele é precioso.