sábado, 31 de outubro de 2015

O menino destruidor e a salsicha

Se você entrou aqui pensando em ler alguma sacanagem, pode ir saindo, pois essa postagem não tem essa finalidade (risos).

No facebook sempre tem algum assunto que se viraliza: O primeiro  foi   um menino destruindo uma escola e a segundo sobre  o perigo de alimentar-se de carnes processadas, dentre elas a salsicha. Quero começar minha defesa em prol da salsicha e depois a gente associa com o menino.


Às vezes, tento relembrar minha infância e a mais remota talvez tenha acontecido no ano de 1969:  " Era uma imensa fila do INPS, não lembro como chegara até ela, com certeza foi de ônibus, mas esse trajeto todo foi apagado de minha mente. Também não lembro o que eu fora fazer lá, talvez fosse para passar em algum médico, isso também foi apagado de minha mente. O que realmente  ficou gravado foi  a imagem de um homem albino que vendia cachorros quentes, através desse diálogo:
- Eu vou querer um completo e divide ao meio, porque elas são pequenas e não conseguem comer um inteiro. Dizia minha mãe.
- Eu consigo comer um inteiro mãe, eu juro que consigo. Dizia eu.
- Fica quieta menina. Não consegue não!
 O homem sorria com suas faces avermelhadas pelo sol diário e cabelos brancos carapinha e preparava com esmero nosso cachorro quente. Mamãe pagava a valor combinado, e saia com os dois pedaços daquele lanche.  Dava metade para mim e a outra metade para minha irmã. Ela justificava ao vendedor que não gostava de comer nada na rua, mas desconfio que ela nunca comeu um cachorro quente na vida.
Eu devia ter uns 4 anos e minha irmã uns 10 anos.  Eu comia o meu pedaço bem devagarinho, tentando degustar bem, pois para mim era o melhor sabor que existia no mundo. A mostarda e a salsicha eram deliciosos, sensacionais, fenomenais."

 Para mim, infância feliz tem gosto de cachorro quente.

Confesso que ainda busco aquele sabor, busco pela cidade o senhor albino com o seu carrinho de cachorro quente.  São mais de 45 anos de busca. Se alguém souber do seu paradeiro me avise, nesse ínterim comi centenas de outros cachorros quentes, mas nenhum com aquele sabor, porém desconfio que se eu  acha-lo, a magia venha a se perder no tempo e no espaço.

Esse episódio do cachorro quente me fez pensar em duas coisas:

1) Falta sinestesia na infância hoje em dia

Acho muito importante a  infância ter essa sinestesia – cores, sabores, cheiros, músicas e toques.   Só que eu ando  meio assustada, pois parece que isso tem se perdido. Parece-me que a infância está plastificada nas telas, telinhas e telões.  Momentos, são momentos...  não dá para plastificá-los ou prendê-los numa tela de smarthphone.  Essas sensações estão  sendo trocadas pela exposições e que isso tem gerado um pequeno pane destrutivo na nossa humanidade. Será que a infância das nossas crianças não tem sido “plastificada”?  Eu li vários comentários dizendo que o garotinho precisava era de uma surra... mas acho que vai muito mais além,   ouso dizer que  esse garotinho não está sozinho. Está sendo formado um exército de garotinhos que fazem birras por algo que nem sabem o que querem, vou usar um termo dentro da minha concepção é nova: está se formando uma nova geração de crianças estressadas. Digo isso com propriedade,  pois acompanho o desenvolvimento de crianças,  já que  desde 1999 estou  na educação digital e, realmente,  tenho me assustado com essa nova geração. Acredito que tem excesso virtual e falta a essência verdadeira: o toque, o aconchego, o amparo, a oração, o colo, o diálogo,  o sabor da comida gostosa, a música acalentadora, o cheiro da natureza, a cor da família.

2) Tudo que é em excesso não é bom

Eu queria um quente cachorro inteiro, minha mãe só deu uma metade. É claro que naquela época era um problema financeiro e minha mãe se privava de comer para dar  para a gente, mas essa limitação financeira foi extremamente benéfica para nos fazer feliz.   Gerou dentro de mim uma expectativa de que quando eu voltasse no INPS ganharia mais cachorro quente.  Na verdade,  foi gerado dentro da gente essa valorização, essa expectativa positiva, esse desejo de nos superar. Não tínhamos nada de “mãos beijadas”. Tudo tinha seu preço, o inverso do que é hoje, onde tudo muito gratuito. As crianças não pagam preço por nada. Não estão sendo geradas expectativas. Todo o pedido  é realizada como um passe de mágica. – É a geração que odeia esperar, tudo fastfood: - Quero ir ao Mac Donalds! Quero comer batatas fritas todos os dias! Não quero estudar, quero apenas brincar! Quero um tablet! Enjoei do tablet, quero um smartphohne! Quero coisas e mais coisas e quando eu não tenho, eu destruo, faço birra. Daí compramos, abarrotamos nossas crianças de coisas. Todo esse excesso de coisas tem feito mal as nossas crianças, assim como o excesso de salsicha pode ocasionar um câncer.  Fica a dica!

... concluindo

 Eu sei que um monte de gente vai parar de comer salsichas por esses dias, assim como deixou de comer feijão, assim como deixou de beber a coca cola e assim como torceu para que o menino destruidor do vídeo levasse uma boa surra e tudo se resolveria, mas não é bem assim é preciso trabalhar na estrutura, nas bases e percebo que elas estão bem “capengas”. Eu penso que essas soluções imediatistas de nada resolvem. Vamos trabalhar nas bases? Vamos deixar as nossas crianças serem crianças?  Não vou nem falar do limite, pois todo mundo está careca de saber da importância de impor limites...porém quero mudar um pouco esse discurso sugerir que sejam resgatadas essas sinestesias? Vamos parar de dar tudo para elas? Vamos dar o essencial – Deixem vir a mim os pequeninos, não os embaraceis (tem pais embaraçando demais), porque dos tais é o reino de Deus (o reino é um lugar feliz e a criança tem essa percepção de felicidade nas pequenas coisas – deixem elas de forma simples e desprovida de recursos, serem crianças. Chega de destruir, vamos reconstruir bons meninos.

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Lina Linólica

0utubro/2015

terça-feira, 28 de julho de 2015

Sai da caixa, você também

Na década de 80 foi criado um slogan que dizia:  Vem pra caixa você também! Na verdade, era para você ser cliente de uma instituição financeira... Hoje, eu fiquei meditando sobre as nossas caixas, daí aproveitei o slogan no inverso.

Tinha um homem que ficou boa parte de sua vida, 38 anos sentado, olhando talvez para uma pilastra, dentro de uma grande caixa, esperando as águas se moverem. Um dia, Jesus passa por esse homem, dá-lhe uma ordem para se levantar, pegar a sua cama e sair andando.  E assim ele faz... Ele era paralítico e foi curado. Ele saiu da sua caixa e se pôs a caminhar, talvez ainda incerto e sem metas, sem alvos. Jesus novamente encontra com ele e diz: - Não peques mais para que isso não aconteça novamente...
Esses personagens bíblicos que viveram em épocas tão distantes, tem características tão semelhantes às nossas.
Às vezes, me sinto como esse homem. Tão travada em meus movimentos. Dentro de uma caixa: que é minha casa, meu carro, meu trabalho, a comunidade que frequento, essa é minha zona de conforto. Ficamos nessa zona de conforto, mas nosso querido Jesus diz: - Sai da caixa! Vai! Levanta, toma tua cama e anda. Vai ter sonhos, vai ter metas. Não deixe de sonhar, não entre na zona de conforto, nessa rotina paralisante, a qual a vida acaba passando tão despercebida aos nossos olhos.
Hoje, dei saída da minha caixa para espiar a vida.  Saí de à pé pelas ruas de Osasco e vi:
- Casas tão fechadinhas, cheia de proteções com medo da violência que infelizmente assola essa cidade. Alguns cachorros presos, pobrezinhos, latindo desesperadamente para talvez chamar a atenção.
- Árvores floridas. É primavera e as cores dessas árvores são de encher os olhos da gente de gratidão. Tinha árvores frutíferas como amoreiras e mangueiras que atraiam sanhaços, bem-te-vis e periquitos. Eu juro que hoje eu vi os três.
- No meio do caminho tinha uma praça. No meio da praça tinha homens aposentados  que conversavam  ao lado de uma roda de pombas que disputavam farelos de pão recentemente jogados ali.
- Ainda na praça tinha uma jovem gari que varria as folhas com esmero, deixando-a mais bonita, em contraste com o velho sofá e muitos entulhos que alguém deixou ali para enfeiar a praça.
Continuei a caminhar pelas vielas, rumo a feira de quinta-feira tinha um grande bonito muro, recém pintado com desenhos de grandes blocos amarelos. Uma senhora, que passava por ali, sorriu para mim e disse: - Que lindo que está esse muro, quanta criatividade. Se todos a usassem assim! Eu sorri para ele e pessimistamente pensei: - Pena que vai durar tão pouco tempo. Logo os pichadores virão e detonarão aquela obra de arte.  E meu pensamento fez um link para um sorriso muito especial que presenciei ontem:
Na Ong onde trabalho, foi decidido que todo primeiro dia do mês, as aulas sejam ministradas pelos alunos maiores (13 e 14 anos). Esses adolescentes tem uma defasagem muito grande no contexto escolar, Eu os acompanho com as disciplinas português e matemática, através de um portal educativo e sei da grande dificuldade de cada um e tento ajudá-los como posso, mas é um trabalho que os resultados são bem morosos, mas enfim, ontem foi dia de um deles ministrar a aula. Eu perguntei para ele:
- Qual é o tema da sua aula?
Ele respondeu: - Vandalismo!
 E o que vai fazer?
- Vou pegar um vídeo no youtube, passar e  e depois falar com eles.
Ele procurou o vídeo, pediu para que eu colocasse no telão. Eu preparei tudo e quando estava pronto, os alunos menores entraram na sala e eu fiquei de canto observando.
Ele, na mesa central disse:
- Hoje vamos falar sobre o vandalismo. Vamos ver um vídeo!
Deixou o vídeo rodar por uns 3 minutos e parou (eles não tem muita paciência)
- Na sua escola tem vandalismo?
E os meninos e meninas começaram a contar rapidamente dos episódios acontecidos.
- Agora a gente vai fazer um jogo da pasta de jogos! É o número 32 (era da minha pasta de jogos que uso nas aulas que não tem internet)
E os meninos e meninas obedeceram e começaram a fazer o jogo 32. Ele caminhava orgulhosamente  entre os computadores olhando se todos estavam fazendo. Fez a chamada e sentiu-se muito feliz em fazer algo. Foi uma expressão de felicidade tão grande que marcou a minha mente.
Confesso que não foi uma grande aula, mas para ele foi o máximo e eu o elogiei ao término da mesma. Penso que foi um dia marcante para esse aluno.
São essas marcas que nos propulsionam a caminhar.
São essas marcas que nos fazem reflitir na vida.
E quando dei por mim, eu já estava na feira... dando risada dos feirantes que zombavam dos candidatos políticos que ali distribuiam seus santinhos.
Voltei para minha caixa. Afinal, tenho que preparar um bom almoço para os meus queridos.
Acho que a grande pegada da vida é fazer com que as pessoas andem. Não sejam atrofiadas em seus movimentos. Jesus veio para isso... e acho que ele quer isso de nós.






quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ahhh essa geração MIMIMI

Não lembro bem ao certo, mas ele, quando era vivo, nos contou algumas vezes essa história, que aconteceu nas décadas de 40 ou 50 e que para mim foi o maior  ato heróico, que carregarei para sempre eu meu coração.   Meu pai, ainda jovem, solteiro,  baiano, cabelo pixaim, mulato, hoje diria um afro descendente, era servente de pedreiro e analfabeto. Saiu do interior da Bahia e veio tentar a sorte em São Paulo. Trabalhava nas construções civis e morava nos alojamentos que a construtora oferecia. No dia de receber seu salário, a pessoa responsável zombava de todos dizendo: - Esses baianos burros, analfabetos, nem sabem escrever, seus burros!!! Vai, enfia o  polegar na almofada do carimbo coloca no recibo.  Meu pai dizia que era humilhante, ouvir esse tipo de zombaria mensalmente e ter que enfiar o dedo naquela almofada.
Ele poderia ter pego essa humilhação e ter as seguintes atitudes:  se prostrar, desistir, reclamar, chorar, jurar vingança àquela pessoa, xingar o país,  ou apenas ter se conformado por ser negro, nordestino e esse era o seu destino. Mas ele simplesmente resolveu mudar essa situação por conta própria.
Um dia, andando pelas ruas, descobriu uma escola e matriculou-se num curso noturno. Sua professora era uma senhora de traços orientais que lhe ensinou as letras e a escrever seu nome.
No mês seguinte, o funcionário veio com as mesmas zombarias. Meu pai disse:
- Por favor! Dê-me uma caneta. Eu quero assinar meu nome! E assim, ele assinou seu nome no recibo, deixando aquele funcionário boquiaberto murmurando entre si: -  Como assim? No mês passado você não sabia e agora nesse mês você já sabe?  E assim, meu pai nunca mais usou aquela almofada de carimbo para assinar seu nome com o polegar;
Foram apenas 3 meses naquela escola, pois a obra terminou e meu pai teve de deixar a cidade e a escola, com grande pesar. Mas nesse curto período aprendeu a ler, a escrever e a fazer contas.
Com a minha mãe não foi diferente.  Às escondidas do meu avô, ela aprendeu as letras e a escrever seu nome. Foi apenas uma semana, talvez 15 dias.  Naquela época, era quase proibido estudar.
Meus pais se rebelaram contra o analfabetismo e de maneira simples nos educou, mas com tamanha eficiência que sou grata até hoje e que causaria inveja a qualquer  Vygotsky, Piaget ou Paulo Freire:
- mamãe era exímia contadora de histórias;
- papai sempre que possível nos alimentava com livros e revistas, embora não soubesse ler com muita fluência;
- meus pais nos deram o essencial – amor, alimentação, algumas roupas e moradia e com isso talvez tenham se privado de muitas coisas, porém, se quiséssemos qualquer coisa, tínhamos que   conquistar com nosso trabalho;
 - meus pais nos motivaram a ser tementes a Deus, mandando-nos  todos finais de semana a ir  a missa (embora não lembro de vê-los ir, mas é que estavam sempre trabalhando);
- meus pais foram exemplo de solidariedade – ajudando muitos parentes a se estabelecerem aqui em São Paulo... minha casa parecia um verdadeiro albergue;
- meus pais foram um exemplo de honestidade. Mesmo com dinheiro precário, nunca vimos cobradores bater em nossa porta.

A forma como eles conduziram a nossa educação foi tão preciosa, que procurei adotar algo semelhante com os meus filhos e os resultados foram bem eficazes.  São atitudes simples, mas geram resultados eficientes.  Dia desses, ouvi alguém dizer que as cartilhas eram preconceituosas, pois só tinha criança branca, que para se ensinar dígrafos usava a palavra dromedário e isso não fazia sentido para o brasileiro e assim fomos reformulando, rebuscando e reformulando... é claro que sou a favor da evolução, mas o que percebo é que no pacote vem   muito protecionismo e isso não gera "anti-corpos." Tudo agora é bullyng ou TDAH ou dá-lhe Ritalina. Vejo crianças sendo protegidas em demasia, crianças que não sabem ouvir um não, crianças que não podem ser frustradas, pior, que ultimamente não se limita apenas às  crianças, mas a adultos, os quais eu classifico-os como os adultos Mimimi da geração facebook que se acham perseguidos, excluídos. Quando vejo tudo isso e presencio essas infantilidades, penso nos meus pais, que em meio a todas essas adversidades que eles tiveram, não se renderam, mas saíram fortalecidos  e com apenas ATITUDES, TRABALHO E ESFORÇO construíram um patrimônio não de bens, mas de VALORES que quero partilhar com meus filhos e netos. 



terça-feira, 19 de maio de 2015

As lições da mala

De todas as viagens que fiz, a que mais adquiri aprendizado foi a para Valência na Espanha – no Campus Party 2007.  Embora tenha ido a um evento tecnológico e tenha participado de palestras, nem lembro ao certo o que rolou na época em termos de palestras. Foram palavras que foram dissipadas com o tempo. Os aprendizados que tive foram situações que aconteceram e que me serviram como lições de vida.
 A primeira foi sobre o cuidado amoroso de Deus, onde ele nos presenteia com bons presentes e ter fé e nunca desistir, onde eu relato com mais detalhes nesse link. Se você tiver interesse é só clicar nele e ler. http://www.linolica.com.br/presentao.htm
A segunda foi da definição da palavra AMOR por um espanhol. Qualquer dia, eu escrevo sobre isso, mas ainda guardo no coração esse aprendizado.
A terceira que quero escrever hoje é sobre a MALA.  Vou tentar resumir mais ou menos como tudo começou. Em 2005 eu mochilei com meus dois filhos para a Argentina. Fiz duas mochilas com peças de roupas e dei para cada um levar. A mala maior com tudo o que precisava para a viagem como toalhas, casacos, kit limpeza, etc, estava comigo. Como mãe, achei melhor poupa-los de muito peso, pois eram meninos ainda de 9 e 11 anos. 
Em 2007 quando descobri que tinha ganhado uma viagem com tudo pago para Valencia- Espanha com direito a acompanhante e decidimos que o Felipe seria o meu acompanhante, pensei em adotar o mesmo esquema. Eu levaria uma mala grande e ele uma menor, pois queria poupá-lo de carregar muito peso.  Agora com seus 13 anos, meu pequeno adolescente disse:
- Mãe! Eu não quero levar malinha pequena. Eu quero uma mala grande. Eu vou pegar a da tia Cidoca emprestada.
Eu contra-argumentei dizendo não ter necessidade de se levar duas malas grandes. Ficaríamos apenas uma semana, e que ele seria responsável pela bagagem dele. Mas o Felipe não se deixou influenciar.  Manteve firme a sua postura de que queria também uma mala grande para levar suas coisas separadamente.
Foi aí que aprendi algumas lições sobre a MALA:
Às vezes limitamos os nossos filhos. Queremos poupá-los de carregar peso, de incômodos, frustrações e impedimos-os de serem autônomos. Canso de ver isso nas escolas. Pais que protegem em demasia seus filhos e eles não crescem para vida. Pais que limitam. Agora não é mais o momento de por limites. Eles já foram colocados quando crianças. A fase agora é outra. Penso que o limite da educação, do respeito, da ética flui naturalmente, então não tem porque ficar batendo na mesma tecla. Agora é momento tirar deles a preguiça e fazer com que carreguem sua própria bagagem.  Sejam responsáveis pelos seus atos, pelas suas irresponsabilidades. Podemos sim orientá-los, aconselhá-los, mas nunca protegê-los a ponto de não carregarem as suas bagagens. 

E  assim, ele arrumou a mala dele sozinho e percebi que estava bem vazia. Não opinei e deixei ele fazer do jeito dele, achando que em algum momento fosse se arrepender e ver que tinha esquecido alguma coisa.  Mas mesmo assim, ele foi carregando aquela mala quase do tamanho dele desengonçadamente.
Partimos para Valencia e durante o evento ganhamos muitos brindes, como camisetas, barraca, colchão de ar, saco de dormir, travesseiro, lençol. Adivinhe para onde foi parar tudo isso? Na mala do Felipe.  No último dia, estava brigando para fazer caber tudo em minha mala. E o Felipe estava com as suas coisas devidamente acomodadas em sua mala. Eu tive que engolir. Muitas vezes, nossos filhos são muito mais visionários que a gente. A gente tem que aprender a confiar na percepção deles. Jamais me passou pela cabeça que iriamos ganhar tanta coisa, mas parece que ele já vislumbrava tudo isso...  1 x 0 para o Felipe.
Ele não trouxe uma única peça de roupa suja para casa. Descobriu uma promoção do MSN onde se lavava e secava roupa de graça no evento.  Foi sorrateiro até lá, lavou tudo e dobrou cuidadosamente. Estava com suas coisas limpas, cheirosas, organizadas.  E eu, com tudo  sujo, amassado, fedendo, entulhado na minha mala. 2 x 0 para o Felipe.  O pessoal do grupo ficou impressionado de ver alguém tão organizado. Na verdade... a desengonçada foi eu.

 Foi nessa viagem que vi meu filho crescer e perceber que ele já estava pronto para alçar voo. E para quem não sabe, ele voou... Com seus 21 anos  já conhece  em torno de 25  países no mundo, fala  fluentemente o francês e  o inglês. Consegue se comunicar em espanhol,  sabe um pouco de alemão, mandarim e dedica-se nesse momento em aprender um pouco do finlandês.  Um detalhe que nunca mencionei: Nunca tive dinheiro para lhe pagar um curso de inglês, o que aprendeu foi no ensino fundamental,  médio,  sozinho assistindo seriados em inglês e pela internet, depois disso, ele descobriu que não tinha mais limites para se aprender. E a nossa missão como pais e deixar que eles próprios sejam responsáveis por montarem e carregarem a sua BAGAGEM sozinhos.  É claro que a gente fica escondidinha prestando atenção em tudo e se pedirem uma ajuda, lá estamos nós disponíveis para um apoio, uma conversa, um conselho, uma amizade.