De todas as viagens que fiz, a que mais adquiri aprendizado
foi a para Valência na Espanha – no Campus Party 2007. Embora tenha ido a um evento tecnológico e
tenha participado de palestras, nem lembro ao certo o que rolou na época em
termos de palestras. Foram palavras que foram dissipadas com o tempo. Os
aprendizados que tive foram situações que aconteceram e que me serviram como
lições de vida.
A primeira foi sobre o
cuidado amoroso de Deus, onde ele nos presenteia com bons presentes e ter fé e
nunca desistir, onde eu relato com mais detalhes nesse link. Se você tiver
interesse é só clicar nele e ler. http://www.linolica.com.br/presentao.htm
A segunda foi da definição da palavra AMOR por um espanhol.
Qualquer dia, eu escrevo sobre isso, mas ainda guardo no coração esse aprendizado.
A terceira que quero escrever hoje é sobre a MALA. Vou tentar resumir mais ou menos como tudo
começou. Em 2005 eu mochilei com meus dois filhos para a Argentina. Fiz duas mochilas
com peças de roupas e dei para cada um levar. A mala maior com tudo o que
precisava para a viagem como toalhas, casacos, kit limpeza, etc, estava comigo.
Como mãe, achei melhor poupa-los de muito peso, pois eram meninos ainda de 9 e
11 anos.
Em 2007 quando descobri que tinha ganhado uma viagem com
tudo pago para Valencia- Espanha com direito a acompanhante e decidimos que o
Felipe seria o meu acompanhante, pensei em adotar o mesmo esquema. Eu levaria uma mala
grande e ele uma menor, pois queria poupá-lo de carregar muito peso. Agora com seus 13 anos, meu pequeno
adolescente disse:
- Mãe! Eu não quero levar malinha pequena. Eu quero uma mala
grande. Eu vou pegar a da tia Cidoca emprestada.
Eu contra-argumentei dizendo não ter necessidade de se levar
duas malas grandes. Ficaríamos apenas uma semana, e que ele seria responsável
pela bagagem dele. Mas o Felipe não se deixou influenciar. Manteve firme a sua postura de que queria
também uma mala grande para levar suas coisas separadamente.
Foi aí que aprendi algumas lições sobre a MALA:
Às vezes limitamos os nossos filhos. Queremos poupá-los de
carregar peso, de incômodos, frustrações e impedimos-os de serem autônomos.
Canso de ver isso nas escolas. Pais que protegem em demasia seus filhos e eles
não crescem para vida. Pais que limitam. Agora não é mais o momento de por
limites. Eles já foram colocados quando crianças. A fase agora é outra. Penso
que o limite da educação, do respeito, da ética flui naturalmente, então não
tem porque ficar batendo na mesma tecla. Agora é momento tirar deles a preguiça e fazer com que carreguem sua própria bagagem. Sejam responsáveis pelos seus atos, pelas
suas irresponsabilidades. Podemos sim orientá-los, aconselhá-los, mas nunca
protegê-los a ponto de não carregarem as suas bagagens.
E assim, ele arrumou
a mala dele sozinho e percebi que estava bem vazia. Não opinei e deixei ele
fazer do jeito dele, achando que em algum momento fosse se arrepender e ver que
tinha esquecido alguma coisa. Mas mesmo
assim, ele foi carregando aquela mala quase do tamanho dele desengonçadamente.
Partimos para Valencia e durante o evento ganhamos muitos
brindes, como camisetas, barraca, colchão de ar, saco de dormir, travesseiro,
lençol. Adivinhe para onde foi parar tudo isso? Na mala do Felipe. No último dia, estava brigando para fazer
caber tudo em minha mala. E o Felipe estava com as suas coisas devidamente
acomodadas em sua mala. Eu tive que engolir. Muitas vezes, nossos filhos são
muito mais visionários que a gente. A gente tem que aprender a confiar na
percepção deles. Jamais me passou pela cabeça que iriamos ganhar tanta coisa,
mas parece que ele já vislumbrava tudo isso...
1 x 0 para o Felipe.
Ele não trouxe uma única peça de roupa suja para casa.
Descobriu uma promoção do MSN onde se lavava e secava roupa de graça no
evento. Foi sorrateiro até lá, lavou tudo
e dobrou cuidadosamente. Estava com suas coisas limpas, cheirosas,
organizadas. E eu, com tudo sujo, amassado, fedendo, entulhado na minha
mala. 2 x 0 para o Felipe. O pessoal do
grupo ficou impressionado de ver alguém tão organizado. Na verdade... a
desengonçada foi eu.
Foi nessa viagem que
vi meu filho crescer e perceber que ele já estava pronto para alçar voo. E para
quem não sabe, ele voou... Com seus 21 anos
já conhece em torno de 25 países no mundo, fala fluentemente o francês e o inglês. Consegue se comunicar em espanhol, sabe um pouco de alemão, mandarim e dedica-se nesse momento em aprender um
pouco do finlandês. Um detalhe que nunca
mencionei: Nunca tive dinheiro para lhe pagar um curso de inglês, o que
aprendeu foi no ensino fundamental, médio, sozinho assistindo seriados em
inglês e pela internet, depois disso, ele descobriu que não tinha mais limites
para se aprender. E a nossa missão como pais e deixar que eles próprios sejam
responsáveis por montarem e carregarem a sua BAGAGEM sozinhos. É claro que a gente fica escondidinha prestando atenção em tudo e se pedirem uma ajuda, lá estamos nós disponíveis
para um apoio, uma conversa, um conselho, uma amizade.