sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Campanha do Abraço

 Campanha do Abraço

Era uma terça-feira. Fui cedinho ao Instituto Carisma e me deparo com as crianças esperando ansiosas pela oficina de Mentes Notáveis que iria começar às 9 horas. Quando me viram, ficaram  alvoroçadas, perguntando se iria ter a minha oficina. Eu expliquei-lhes que na terça-feira era dia de eu trabalhar com a hidroponia e que eles não teriam a minha aula, portanto deveriam esperar, já que tinham chegado tão cedo. Era 8 horas ainda. Um deles veio atrás de mim. Enquanto ligava meu computador ele ficou observando meus gestos como se quisesse dizer alguma coisa. 

-  Por que você veio tão cedo? Disse-lhe, puxando conversa. 

- É que eu gosto muito de estar aqui professora.

- Que bom que você gosta de estar aqui. Disse sorrindo

Os olhinhos dele ficaram ligeiramente molhados e com a vozinha quase que embargada me confidenciou: 

- É que quando estou em casa meu irmão fica batendo em mim.

- Puxa... Que coisa mais chata. E você conta para a sua mãe que ele bate em você? 

Sim professora, mas ela nunca faz nada!

Eu levantei e dei-lhe um abraço, como se embalasse aquela dor. Ele sentiu-se confortado.

De repente, o olhar de tristeza foi desanuviado e ele saiu correndo e pulando para brincar com as outras crianças.

Percebi que nesse simples gesto foi quebrado o ciclo da dor, da tristeza

É claro que mais tarde, procurei a nossa psicóloga e expus o caso dele para uma averiguação com a família. 

Agora, sempre que ele me vê, ele quer um abraço. E não é só ele. Sempre tem uma comitiva que aparece na minha sala com um dente de leão, uma florzinha, uma pedrinha, uma concha ou um desenho  e depositam sobre a a minha mesa seus tesouros. Eles contam suas histórias e sempre sobra um abraço para a gente. 

E eu realmente amo muito tudo isso. São momentos tão preciosos que faz a vida da gente valer a pena. Eles não fazem ideia de como é importante para nós educadores essas doses de carinho, principalmente sabendo de suas origens de muita vulnerabilidade social. 

Nessa madrugada, eu acordei  com meu coração tão angustiado, pensando no que fazer para tentar amenizar a dor no coração das pessoas, pois tenho visto tanta divisão, tanto ódio, tanta carga pesada pelo acúmulo de informações que nos chegam. A sociedade tem estado tão estranha nesses últimos anos. Fui me achegando a Deus em oração, como aquele meu aluninho de olhos anuviados e naquele momento veio  nitidamente a cena que acabei de descrever e pensei: como um simples abraço pode ser  restaurador. Senti-me abraçada em minhas memórias, senti-me embalada pelo Pai.

Eu queria, de todo o meu coração, deixar aqui um abraço para cada um que ler essa mensagem. Que seja um abraço terno e   traga luz aos olhos embaçados pela dor e pelo desamor. Um abraço de paz e leveza aos corações.

Com muito amor, 

Lina




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