segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

A mãe e a filha montando um presépio

 Enquanto crocheto esse mini presépio, meus pensamentos se dirigem a ela, minha mãe de 94 anos. 

Tem sido um desafio muito grande ajudar a cuidar dela. A cada dia é um novo aprendizado, uma nova mania. Minha irmã Cidoca tem liderado essa missão. Minha irmã Neusa é responsável pelo departamento de banhos e eu faço os caldos que ela tanto gosta. 


Tem dias que ela sorri, interage lucidamente e tem dias que está apática, pensativa e calada.

Foi num dia desses, com os olhos quase sem brilho, sem esboçar um sorriso, sem esboçar emoção que lhe perguntei o que se passava e ela respondeu monossilabicamente: 


- Cansada.


 São 94 anos de vida, de história. Tento fazê-la sorrir, preparando o seu caldo predileto. Sirvo com um agrião recém colhido da minha hortinha hidropônica, mas  que nada. Ela come silentemente, focada e rapidamente. Não quer conversa. 


Termina de comer, corre para o banheiro a fim de cumprir  o ritual de escovar os dentes e fazer xixi. Na verdade, ela não corre, mas  vai com seus passos cansados e quase trôpegos, e a gente tem que se levantar no meio da refeição para ajudá-la cumprir a sua meta, como se competisse em uma maratona. Não entendemos o porquê da pressa, mas essa é uma das manias de mamãe.

Pergunto-lhe se não quer ver a “Carinha de Anjo”, novelinha que ela assistia depois do almoço, mas enjoou. Não quer mais ficar sentada no quintal vendo as plantas e o roçar dos gatos. Não quer mais ver TV na sala. Quer apenas ficar no quarto, deitada. Subimos para o quarto. Tento engatar uma conversa falando de crochê, mostrando minhas linhas, minhas invenções, minhas trapalhadas. Ela esboça um sorriso. E assim fico provocando seu sorriso tão escasso e cansado entre linhas e recordações.


- Mãe, a senhora lembra do nosso primeiro presépio?


Ela sorri e voltamos para  o passado.


- Sim. Eu me lembro.


E em meio as linhas, tecemos as nossas recordações:


Ela era uma jovem mãe de uns 40 anos, com sua pequena filha de uns 5 anos, catando barro no pequeno córrego bem próximo a nossa casa. Com aquele barro esculpimos boizinho, vaquinha, ovelhinha, pombinha e pintamos com tinta guache. Eles compunham o nosso pequeno presépio naquele início dos anos 70. Era uma época tão feliz, tão marcante para mim. Não tínhamos dinheiro para presentes, mas tínhamos uns aos outros. E o cenário era esse: Minha mãe, minhas irmãs naquela missão de reconstituir o natal, amassando o papel pedra e colocando solenemente os itens que conseguimos fazer ou adquirimos com muito sacrifício. Com meus olhinhos infantis, me identifiquei mais com o menino Jesus do que com o papai Noel. Cantávamos pobrezinho nasceu em Belém. Talvez o pobrezinho dessa canção tenha feito mais sentido para mim do que o velho papai Noel, o qual eu tinha feito alguns pedidos e não recebido nada.


E essa foi minha primeira experiência com o menino Jesus.


Naquela tarde, rimos bastante das nossas lembranças.


Voltei para casa, peguei receitas no youtube de amigurumis de presépio e resolvi montar esse presépio para ela.


Ontem mostrei para ela a ovelha e a Maria. Ela criticou a minha Maria, dizendo que estava sem boca.  Tive que costurar uma boca, sob protesto, pois não gosto nada de costurar. Rimos bastante, mas logo ela me expulsou do quarto. Acho que queria dormir. 


Hoje, pela manhã acordei sorrindo com essas lembranças, cujo tempo não apagou.


A mãe e a filha montando o presépio.


Hoje, eu sou a filha, já de cabelos grisalhos, crochetando um presépio para a sua velha mãe. Os fios são uma forma de me conectar a ela. Talvez tenha sido o motivo de crochetar tanto esse ano. 


Essas lembranças da pequena menina com o menino Jesus me fizeram muito bem


E assim, finalizo meu pequeno presépio para dar para ela nesse quase final de ano.


E aproveito para deixar aqui meu desejo de um Feliz Natal, com a presença preciosa de Jesus, que nos reconecta com a nossa humanidade. 







quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

O Puxadinho

 O Puxadinho



No decorrer da nossa existência a gente vai acumulando tantas coisas. Teve uma época na minha vida em que eu parecia o Julius ( Todo mundo odeia o Cris) e tinha dois empregos. Pedi demissão de um deles e me mantive apenas em um. Cortei gastos e foi aquela época pós pandêmica onde a gente repensa a nossa existência e acaba descobrindo que a gente  carrega peso demais.


A carga mental e o stress diminuiram, mudei parcialmente de área e virei a professora de alface (piadinha interna, tá). Comecei a me dedicar à hidroponia e a ensinar algumas técnicas de cultivo. 


E o ano de 2023 chegou e percebi mais um tipo de acúmulo. Dessa vez era o peso que carregava nesse meu corpo.  Ele não estava programado para suportar tanto e em consequência disso, as dores eram constantes. Cheguei em  um momento que tive dificuldades para amarrar os meus sapatos, sem contar as noites que eram regadas de refluxos. Acordava pensando qual seria a dor nova que iria aparecer dia seguinte, na sola do pé, no calcanhar ou no joelho  e justificava: - coisas da idade

… afinal já tô com 57 anos. Quando a gente constrói puxadinhos, sem analisar a estrutura, pode “dar ruim”.  Foi assim que  o meu corpo acabou chegando aos quase 100 quilos e eu nem percebi. Decidi tomar algumas atitudes, entrando para um programa de emagrecimento da Jessica Pense Leve, que foi crucial para perceber os “puxadinhos” que a gente vai colocando em nosso corpo de forma quase imperceptível no decorrer dos anos. Aprendi:


  • Meu corpo é templo do Espírito Santo, por isso não devo maltratá-lo (essa é minha frase diária, para lembrar de cuidar melhor desse tabernáculo  que Deus me deu).


  • A beber mais água. 


  • A não comer minhas emoções, mas nutrir o meu corpo apenas quando estou com fome.


  • A descascar mais e desembalar menos, ou seja, voltar mais ao natural, àquilo que Deus criou. 


  • Tomar café sem açúcar e perceber que o amargo também é muito bom. 


  • Praticar esporte é saúde para o meu corpo.


  • Dá para emagrecer, mesmo estando na menopausa e com 58 anos. Sim, já   foram quase 30 kilos a menos nesse corpo, de forma leve, saudável, sem loucuras.


  • A ousar em mais uma mudança. Já  tinha abolido a tintura dos meus cabelos. Dessa vez foi a progressiva de anos a fio. Resolvi experimentar cortar o cabelo bem curto por conta do calor e deixá-lo ao natural e  percebi que gosto também  dos meus cabelos crespos.


2023 foi um ano de desafios e estou feliz com o resultado. Só o fato de desmanchar aquele puxadinho que tinha construído toda a minha vida, já me deixa mais leve, mais ágil, mais saudável e penso que é isso que Deus quer para a nossa vida:


Ele diz: "Tirei o peso dos seus ombros; suas mãos ficaram livres dos cestos de cargas. Salmo 81:6


Que o ano de 2024 seja mais leve, com mais saúde sem gambiarras e puxadinhos a fim de que possamos experimentar a boa vontade de Deus. 





Notinhas que a gente lembra depois:

1) Em janeiro de 2023, alguém comentou: - se você ganhasse um monte de dinheiro, o que faria? no meu íntimo respondi: - não quero ser rica, quero ser magra. Na mesma semana, me mandaram uma live da @jessicapenseleve e foi aí que a mudança, que há tantos anos eu havia tentado e sem sucesso, começou a acontecer.

2) Em julho de 2023 pude dar entrevista e aparecer na Globo, - https://globoplay.globo.com/v/11840814/,  diferente de 2017, em que dei entrevista, mas só apareci gordamente de relance  https://globoplay.globo.com/v/6207377/

3) Tenho feito exercícios em casa. Esse é meu canal favorito: https://www.youtube.com/@BurpeeGirlShorts

4) E para não perder o costume: quem não leu meu livro "Desconstrução", ele está na Amazon e você pode adquirir pelos link:- https://amz.onl/7yvNaBn - Escrevi em 2018, contando como me descontrui ao saber que meu filho é gay.


terça-feira, 17 de janeiro de 2023

O deserto

 O DESERTO


Nesse ano de 2023 resolvi conhecer o  deserto do Atacama no Chile. Foram dias intensos, felizes, com paisagens marcantes, nesse  dia,  estava no mirador de Kari, na pedra do Coyote e o meu coração estava muito triste ao saber das últimas notícias acontecidas no congresso nacional. Fiquei ali, quietinha, orando pelo Brasil. Confesso que nesse ano de 2022 acordei várias vezes de madrugada para orar pelo meu país, pois uma idolatria se instaurou no meio da igreja e as pessoas nem perceberam. 


A idolatria


Tenho amigos, gente muito querida nesse transe que nem se aperceberam.  Com relação a ídolos, a Bíblia diz:

“Tornem-se, portanto, como eles, aqueles que os fazem e todos os que neles confiam! salmo 115:8”

E foi nesse ídolo, que muitas delas se tornaram - pessoas doentes, atacando, cheias de ódio. Sendo infladas pela mentira, pelas fake-news. Tornaram-se homens bombas. Eu tive o desprazer de ver apenas 3 videozinhos que circulam nessas redes bolsonaristas. Um deles deletei, mas outros dois eu arquivei o qual compartilho, não para envenenar ninguém, mas para que minhas palavras tragam cura. Confesso que não tenho mais estômago para assisti-los, pois sei que esse tipo de material é  suficiente para causar um grande estrago  na alma dessas pessoas. Imagine a quantidade de vídeos desse estilo que circulam diariamente em redes bolsonaristas? É desumano isso. E essas pessoas, seguem cegamente seu ídolo e se tornam como ele. 


Como é instalado um deus estranho na alma das pessoas?


Foi no ano de 2018 que recebi um deles e resolvi abri-lo. Percebi  várias pessoas queridas hipnotizadas pelo engano de Damaris Alves. E vi que era esse conteúdo que consumia em algumas ministrações na igreja. Senti-me envergonhada, pois também recebi esse tipo de alimento e acreditava piamente, pois achava que ali era uma autoridade falando, mas chequei cada informação dela e percebi o quanto de alarmismo infundado entrou na igreja nesses anos. Ela pegava textos fora de contexto dando uma dimensão tão grande com uma pitada de mentira e as pessoas consumiam tudo isso. Que deus estranho. Nesse interim escrevi o meu livro "Desconstrução" e a postagem “O Diferente” só de pensar nesse vídeo e nesse pensamento que foi entrando sutilmente nas igrejas, mas o estrago já estava feito.

https://drive.google.com/file/d/1suWibIn0LZZSOpfKf8dBNXXsr_EMckmy/view?usp=sharing


O segundo vídeo recebido  é recente. É uma espécie de maratona pros patriotas não desistirem dando a entender que até do Catar estaria  vindo reforço e uma série de outros eventos. Isso inflamou a alma dessas pessoas. As pessoas consomiam diariamente  esse conteúdo como droga, seguindo esse deus estranho. Admira que gente querida ainda apoie esse bolsonarismo,  sendo conivente com essas atrocidades no país, com esse “talibã evangélico” e  com a criação desses homens bombas.

https://drive.google.com/file/d/1su_9QP-XVtiGPC0fCXOTZ0TV8P87eDu_/view?usp=sharing

É claro que esse é só um dos vídeos que veio para mim, talvez por engano, mas imagino que centenas deles circulem nas redes sociais. Volto a enfatizar, quanto deus estranho tem penetrado nas entranhas das pessoas adoecendo-as a ponto de invadirem o congresso nacional. E muitos evangélicos apoiando essas atrocidades. Achando que existe uma luta invisivel entre bem e o mal. Foram condicionadas a isso. Eu ouvi isso a minha vida toda… mas era um deus estranho.  Eu realmente me sinto mal por tudo isso. 


Bem x Mal?


Infelizmente eu não sei se existe cura, pois enquanto o ódio e a mentira operar nessas vidas, não tem espaço para Jesus agir. Tenho visto Jesus fora dessa igreja, batendo na porta…mas quem se habilita em soltar seu ídolo? Enquanto escrevo isso, sei que algum deles vai vir aqui dizer: - E o Lula? Que é argumento predileto deles… mas não se trata de um versus  o outro. É perversa e diabólica essa lógica de quem vota nesse ou naquele vai pro céu ou inferno, como se a salvação dependesse de um político, trocando-se Jesus por um ídolo. Uma amiga uma vez me disse: - que bom que estamos do lado certo… mas não gosto de olhar por esse prisma, gosto de apenas exercer meu direito de cidadã. Pois pra mim  o Lula é apenas o presidente que foi eleito democraticamente e que tem recebido minhas orações,   como o presidente anterior. Esse é o papel do cristão. Mas hoje… vejo essa nação dividida, famílias divididas e cegadas por esse ídolo.


É necessário ir para o deserto


Às vezes, a gente precisa de sair do círculo vicioso do sistema, senão você acaba sendo engolido por ele. Gosto de observar Jesus, que volta e meia vai para lugares mais retirados. E nesse ano de 2023, eu literalmente fui para um. É claro que fui mochilar,  e não fui a um retiro, foi turismo mesmo, mas tive algumas pitadas de momento com Jesus:

“ Ele com sede,  sol a pino, aquela mulher no poço tirando água,  ele pede água e, em algum momento a mulher diz: - Como sendo tu judeu, fala comigo sendo eu uma samaritana? Existia ali uma divisão histórica. Samaritanos x Judeus. E a mulher perguntando quem tá certo? E Jesus diz: nem um, nem outro… essas coisas começam no coração. Verdadeiros adoradores adoram no coração, em espirito e em verdade. Vem de corações sinceros.


“Outra situação de deserto, foi quando mataram o primo de Jesus. E ao invés de ele ir invadir o palácio, quebrar tudo,  Ele vai pro deserto alimentar gente. Distribuir amor, ensino, inclusividade. Eu olho para tudo isso e fico agonizada porque só consigo enxergar um deus estranho no meio desse povo.”


Salmo 81 para não perder o costume


É interessante que no ano de 1998,  numa madrugada, enquanto orava pelo meu filho, ouvi Espírito Santo sussurrar em meu coração, leia 10 vezes o salmo 81. E eu lia e não entendia…

Nas noites seguintes, enquanto me preparava para orar, em meu coração vinha a mesma voz:  “Salmo 81”. Como aquele menino do Karatê Kid “tira casaco” “põe casaco”. Foram inúmeras madrugadas em que lia o salmo 81 e perguntava para Deus o porquê de tudo aquilo. Não conseguia entender. Escrevia minhas percepções sobre o salmo, mas volta e meia, lá  estava eu novamente a ler o salmo 81, pois sabia que ali estava a trajetória humana. Ali tinha um deserto. Ali estava eu. Ali estava Jesus. 


“Não haverá entre ti deus alheio nem te prostrarás ante um deus estranho.”


A parte que mais me impactava era sobre o deus estranho. Eu era tão zelosa com relação as coisas de Deus (pelo menos àquilo que aprendera nas igrejas).  Mas o Espírito dizia: Tem deus estranho, mas no início eu não conseguia identificar. 


Os anos se passaram e eu fiquei com essa palavra incrustada na minha alma. Ficou mais  fácil  distinguir o falso do verdadeiro. No Salmo 81, Jesus está presente, não colocando jugo pesado nas nossas almas, mas nos libertando da escravidão. Ele nos orienta constantemente para ouvi-lo e exorta-nos para não termos deuses estranhos, pois é perigoso demais e pode cegar as pessoas. 


Não pisoteie o solo sagrada do existência


Na oração do Pai Nosso, onde repetimos “Santificado seja o vosso nome” é honrar o nome de Deus - É não disseminar fake news em nome Dele. Isso me lembra Moisés, num lugar deserto, vê uma sarça ardente e ouve a voz: - Tira a sandália, pois o solo é sagrado. O  solo sagrado da existência não é para ser pisoteado, massacrado, mas pisar com cuidado, solenente, com reverência.  


Mas e Deus, família e pátria? Jamais dependerei de político para adorar a Deus, pois a adoração começa no coração. Lembra do conselho de Jesus à mullher samaritana? E a família? Jamais dependerei de político para cuidar da minha família. É atribuição minha o cuidar e o educar dos meus filhos… nem muito menos de escola. Escola ensina, família educa. E a pátria? Trabalho honestamente e dou a césar o que é de césar e dou a Deus o que é de Deus. Esse é meu princípio para que a pátria seja honrada. Na minha primeira viagem para a Europa, naquele ano de 2007, vi que o tranvia não tinha muro, não tinha cobrador, não tinha catraca. Apenas se validava o bilhete numa maquininha e a gente tomava a condução. Aquilo me intrigou e perguntei para um senhor espanhol se as pessoas não burlavam tudo aquilo. Ele respondeu: - Precisa ter amor no coração!  Amor à pátria é isso: - Precisa ter amor no coração. Não para levar vantagem, mas para fazer o que é certo. Sei que estamos longe de tudo isso, mas é o que Jesus nos ensina. 


É muito oportuno usar esse argumento, pois acho que todos, ou quase todo mundo ama à Deus, ama a sua família e ama o seu país, mas a fundamentação de tudo isso foi  oportunista permitindo que um deus estranho fosse instalando na alma das pessoas e o que vejo hoje é muito perigoso. Tem gente literalmente explodindo. Quem tem ouvidos ouça… 


Com amor


Lina Linólica

17/01/2023



Eu ía escrever mais, mas já tinha escrito outros artigos com argumentos semelhantes:

"O diferente" - http://linolica.blogspot.com/2021/06/o-diferente.html

"Qual mentira contaram para você?"

https://linolica.blogspot.com/2022/06/qual-e-mentira-que-contaram-pra-voce.html

"Desativando Homens Bombas"

https://linolica.blogspot.com/2019/03/desativando-homens-bombas.html

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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Campanha do Abraço

 Campanha do Abraço

Era uma terça-feira. Fui cedinho ao Instituto Carisma e me deparo com as crianças esperando ansiosas pela oficina de Mentes Notáveis que iria começar às 9 horas. Quando me viram, ficaram  alvoroçadas, perguntando se iria ter a minha oficina. Eu expliquei-lhes que na terça-feira era dia de eu trabalhar com a hidroponia e que eles não teriam a minha aula, portanto deveriam esperar, já que tinham chegado tão cedo. Era 8 horas ainda. Um deles veio atrás de mim. Enquanto ligava meu computador ele ficou observando meus gestos como se quisesse dizer alguma coisa. 

-  Por que você veio tão cedo? Disse-lhe, puxando conversa. 

- É que eu gosto muito de estar aqui professora.

- Que bom que você gosta de estar aqui. Disse sorrindo

Os olhinhos dele ficaram ligeiramente molhados e com a vozinha quase que embargada me confidenciou: 

- É que quando estou em casa meu irmão fica batendo em mim.

- Puxa... Que coisa mais chata. E você conta para a sua mãe que ele bate em você? 

Sim professora, mas ela nunca faz nada!

Eu levantei e dei-lhe um abraço, como se embalasse aquela dor. Ele sentiu-se confortado.

De repente, o olhar de tristeza foi desanuviado e ele saiu correndo e pulando para brincar com as outras crianças.

Percebi que nesse simples gesto foi quebrado o ciclo da dor, da tristeza

É claro que mais tarde, procurei a nossa psicóloga e expus o caso dele para uma averiguação com a família. 

Agora, sempre que ele me vê, ele quer um abraço. E não é só ele. Sempre tem uma comitiva que aparece na minha sala com um dente de leão, uma florzinha, uma pedrinha, uma concha ou um desenho  e depositam sobre a a minha mesa seus tesouros. Eles contam suas histórias e sempre sobra um abraço para a gente. 

E eu realmente amo muito tudo isso. São momentos tão preciosos que faz a vida da gente valer a pena. Eles não fazem ideia de como é importante para nós educadores essas doses de carinho, principalmente sabendo de suas origens de muita vulnerabilidade social. 

Nessa madrugada, eu acordei  com meu coração tão angustiado, pensando no que fazer para tentar amenizar a dor no coração das pessoas, pois tenho visto tanta divisão, tanto ódio, tanta carga pesada pelo acúmulo de informações que nos chegam. A sociedade tem estado tão estranha nesses últimos anos. Fui me achegando a Deus em oração, como aquele meu aluninho de olhos anuviados e naquele momento veio  nitidamente a cena que acabei de descrever e pensei: como um simples abraço pode ser  restaurador. Senti-me abraçada em minhas memórias, senti-me embalada pelo Pai.

Eu queria, de todo o meu coração, deixar aqui um abraço para cada um que ler essa mensagem. Que seja um abraço terno e   traga luz aos olhos embaçados pela dor e pelo desamor. Um abraço de paz e leveza aos corações.

Com muito amor, 

Lina




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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Gratidão

 Acordei feliz hoje... Abri minha varandinha e comecei a agradecer a Deus:

Pela minha família tão preciosa que amo demais.
Pelos meus filhos que são tão peculiares, mas que amo tanto que até dói meu coração.
Pelo meu marido que quase ninguém conhece, mas que é um grande homem na minha vida, que cuida de mim, me paparica, cuida dos meus filhos, cuida da minha mãe e faz tanta coisa legal pra todos nós.
Pela mamys, aquela senhorinha de 92 anos e pelas minhas irmãs, pensa em duas meninas super poderosas? e no pacote está meus sobrinhos, cunhadas e cunhadas daqui e de Minas. Pela harmonia que a gente cultiva.
Pela meu emprego que é tão legal. Eu amo ensinar minhas crianças, e eles tem uma energia incrível. E a nossa equipe de trabalho é muito jóia. E eu também amo ensinar a plantar. Saber que a gente pode ser canal de bênção na vida de alguém é o que alegra meu coração.
Por tomar a decisão de pedir demissão do outro emprego, que também era bem legal. Sim... minha renda diminuiu, mas só de pensar que não trabalho fora na quinta e sexta-feira é muito bom.
Pela comunidade cristã saudável a qual participo, que não se contaminou com a política e nunca foi palanque de candidato algum.
Pela colheita de hoje, que mesmo num espaço tão reduzido eu consigo plantar e colher
Pelas amigas e pelos mochilões que a gente já voltou a planejar para o ano de 2023.
No domingo, aprendi que a gente deve buscar a paz e segui-la e confesso que quando olho para esse cenário tão dividido, tão atribulado, tão cinzento, nossa fé se esvai, e dá vontade de sumir, mas hoje pela manhã, o Espírito Santo me fez olhar para esse pequeno oásis em meio ao caos e sou grata pelas minhas escolhas. Escolhi a Jesus, tão somente a Ele.
Lembro que um texto que escrevi em 2016, mas que para mim, nada mudou, pelo contrário, se agravou. "Mas, o grande ensino de Jesus é que ele queria distância desse povo, mas distância mesmo, tanto é que ele vai para um lugar bem deserto, longe do sistema envaidecido e ensandecido e ali Ele fez o que “Estado” deveria ter feito: ensinou (cuidou da educação), curou (cuidou da saúde) alimentou (cuidou das necessidades básicas) e com isso, os corações foram acalentados. Se ele tivesse ido para aquele “palácio” poderia se contaminar, mas ele foi para o deserto, longe do sistema manipulador e corrupto, longe das festas e distrações do palácio e em uma das versões bíblicas fala que a primeira coisa que ele fez, antes de multiplicar pães foi “Ensinar”. E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas – Marcos 6:34. A educação é prioridade e o que será que Jesus ensinava? Ensinava ética e cidadania (pois o grande enfoque era o amor ao próximo e isso nada mais que ética e cidadania)" -
Foi nisso que acordei pensando. Paz para todos! A Paz de Jesus. 


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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Paulo


Um dia, fui trabalhar com meu coração em luto. Foi logo após as eleições. Chorei copiosamente de dentro do carro. Essa questão do porte de armas, o ódio incitado sobre a comunidade LGBT, as redes sociais e a caça às bruxas. Olhei para as minhas crianças chegando no Centro Social Carisma e pensei: - mal sabem elas do dilema que tenho enfrentado.

Entrei no meu modo: “É urgente”! Não quero que meu filho morra! Não quero escrever esse livro em memória de um menino assassinado. Quero o meu filho vivo. Quero outras centenas de meninos vivos. Quero ajudar a mudar essa história.

Preciso escrever, falar, fazer qualquer coisa. Ele salvou a minha vida. Eu estava no caminho de Damasco, sendo conivente por ignorância. Eu sempre desconfiei das coisas, mas tem horas que é mais fácil a gente acreditar nas pessoas, sem ao menos saber o outro lado da história.

Lembro-me de Paulo. Tão cego em seus princípios e convicções. Ele era zeloso. Eu também era assim. Perseguindo aqueles cristãos  no caminho de Damasco. A religião nos faz assassinos, por conta do nosso zelo, dos nossos achismos. E em determinado momento aparece Jesus que diz: Ah... Paulo, Paulo, porque me persegues?

- Quem és tu?

-  Eu sou a Jesus a quem me persegues.

Daí emendo com outro texto.

Quando te vimos Jesus? 

- Sempre que fizestes a um destes irmãos, mesmo dos mais pequeninos a mim o fizestes.

Daí alguém pergunta pra Paulo sobre a verdadeira religião: - é cuidar do órfão e da viúva.

Quem são esses órfãos, esses rejeitados da nossa sociedade?

São esses que tem que sede e fome de justiça. 

Paulo, não precisa mais derramar sangue inocente de ninguém.

Basta de violência!

Então, por favor, se vires algum desses pequeninos, acolha-os em amor. Se você é mãe ou pai de um desses pequeninos, acolha-os em amor.

Se eu não tivesse um filho gay, acho que estaria como o velho Paulo, sem misericórdia, sem empatia, defendendo com unhas e dentes as minhas posições doutrinárias, matando tudo que fosse diferente daquilo que penso.

As escrituras podem te tornar um velho Paulo, raivoso, mas convicto da lei -

Ou um cristão quebrantado, que vê a glória de Deus.

A glória de Deus não está em ver anjos, coisinhas brilhantes e sobrenaturais

A glória de Deus só se vê quando as escamas dos olhos caem e a gente vê o ser humano na perspectiva de Jesus, na perspectiva do amor, da misericórdia e da graça. Gente com cara de gente.

Por isso, estou me desconstruindo, estou nascendo de novo

A gente vai se descobrindo, se descobrindo.


Lina Linólica - Do meu livro desconstrução - cap. 21  - novembro/2018


E se você está "escandalizado" por eu trazer esse tema, sugiro que leia a minha postagem "o diferente". 


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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Sou uma mãe pela diversidade

 Em 1983, no ano em que decidi prestar vestibular e fui comunicar a decisão para o meu pai, ele disse: - Onde já se viu isso? Mulher tem que trabalhar, guardar dinheiro pro enxoval e depois casar. Você não tem meu apoio!

Eu, com a minha rebeldia adolescente, dei com ombros, trabalhei feito um camelo, passei até fome, e concluí minha graduação.  


Hoje, quando olho para o passado e lembro-me desse episódio, não me traz dor, apenas empatia por meu pai. Ele aprendera que tinha que  ser assim. Era o que estava dentro de seu campo de visão. No seu limite de aprendizado ele tentou me aconselhar. Tinha dado certo com minha irmã do meio e comigo deveria ser igual.  Não se mexe em time que está ganhando.


É claro que fiz diferente com meus filhos. Educação evangélica, leitura, jogos de lógica, mochilões.

Daí eu volto para o passado e olho pra mim educando meus filhos. Eu aprendi que tinha que ser assim. Era o que estava no meu campo de visão. Tinha dado certo com tantas famílias. Não saiu bem do jeito que eu achava que tinha que ser. Ele era diferente.


Não dá pra seguir um padrão.


Mãe pela diversidade


Há um ditado popular que diz:

Mãe é tudo igual, só muda o endereço.

É claro que toda regra tem exceção.

Mas filho não é tudo igual

Filho é especial, é único.

Como pode isso?

Mistérios do Criador.

Eu mesma, tive dois filhos

Tão diferentes, tão diversos.

Tão capazes de me salvar do meu

Egoísmo pueril, "das minhas certezas viscerais"

Eles foram chegando de mansinho.

Frágeis, cheirosinhos, fofinhos.

E um chip de "instinto leoa de proteção"

Foi implantado em mim. 

É aquele que é implantado em quase todas as

 Mães que e nos deixam muito parecidas:

Passamos a proteger, cuidar, educar, doar

E  tentamos  oferecer o que temos de melhor -

Tão somente para eles.

E nessas "oferendas de vida"

Tentamos passar 100% de nós.

Mas o grande conflito está aí.

Eles têm vida própria.

Eles crescem com suas identidades

Eles podem ter semelhanças físicas,

Mas a personalidade, até mesmo a sexualidade é diversa. 

E foi nesse estágio que um dia me encontrei.

Estudando, entendendo, acolhendo.

Sou mãe de um filho gay, o mais velho.

É estranho eu abrir o armário da sua intimidade,

Mas precisava fazer isso. 

Ele estava morando na Finlândia, quando me confidenciou que era gay

Sorte ou azar a minha por ele estar tão distante. 

Na minha ignorância fui orar pela sua cura.

Mas Deus me mostrou que eu que era a doente nessa história.

E a minha cura aconteceu 

Passei a olhar para outras mães com empatia protegendo seus "rebentos"

Cada uma dentro da sua individualidade.

Antes eu conhecia Jesus de ouvir falar, mas meus olhos foram abertos 

E passei andar com Ele em sua inclusividade

Em seu amor pelos mais excluídos, talvez os 

órfãos dessa sociedade religiosa moderna de pais homofóbicos que 

"abortam" meninos gays.



Lina


24/09/2022



Notas:



  • Em 2018, um boom de fakes news sobre ideologia de gênero assolaram a igreja evangélica. Elas chegavam em "pencas" pela WhatsApp e eu recebi dezenas delas, mas nunca abria e deletava todas. Amigos e conhecidos estatelavam os olhos e diziam,   tem que votar no fulano para não entrar a tal ideologia de gênero e eu engolia a seco, pois tenho um  filho gay e aquele era um assunto que ainda não estava muito resolvido. Um dia,  tomei coragem, e  abri um desses videozinhos e aquilo virou o estômago, me deu cólicas, suadouro - era uma lavagem cerebral. E percebi que era aquilo que durante toda a minha vida ouvi nos bancos da igreja, por anos fui doutrinada pela minha religião que isso era pecado, inferno e chamas.  Eu tinha um jovem gay na minha casa e tudo o que ouvi dentro da igreja não fazia sentido, fui pesquisar, ler e orar sobre o assunto, pois até então repetia como um papagaio aquilo que ouvira minha vida inteira e no íntimo Deus foi ministrando a cura da alma. Foi aí que tive o senso de urgência em compartilhar minha trajetória, que se inicia com a minha base, a construção, a desconstrução e por fim a reconstrução.


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  • O compartilhamento desses vídeos fez crescer um  grupo enfurecido e fundamentalista em prol da família brasileira, isso é tão agonizante, pois jovens lgbt tem sido perseguidos e é o grupo que mais morre assassinado, vítimas da homofobia aqui no Brasil. Você já pensou nisso quando compartilha um vídeo desses ou concorda com eles sem ao menos pesquisar? Eu pesquisei alguns  e tenho um deles aqui nos meus arquivos. Fiz questão de mantê-lo. Um vídeo adulterado, cheio de ódio, de mentiras infundadas para causar repulsa em quem assiste, de uma malignidade imensa  e  sabe quem é prejudicado? nossos jovens lgbt. Quem compartilha isso, precisa urgentemente de arrependimento.