segunda-feira, 4 de março de 2019

Desativando homens bombas



Perguntou ele: "Quantos pães vocês têm? Verifiquem".
Quando ficaram sabendo, disseram: "Cinco pães e dois peixes".
Marcos 6:38

Um dia, em uma dinâmica com um grupo de professores, minha coordenadora nos perguntou mais ou menos assim: - Qual é o papel do educador na escola? Todas educadoras deram suas respostas politicamente corretas e a minha foi a mais estranha:
 - Desativar homens bombas. Ela arregalou os olhos como se dissesse: - oi? Como assim?
Como era uma dinâmica e a coisa tinha que fluir rapidamente, apenas disse: - foi isso mesmo que você ouviu: - desativar homens bombas. E segui o fluxo.
Às vezes, penso que ela me acha meio doida. Mas não consigo ser diferente. Tenho inquietações constantes na área da educação, porque é algo urgente e um menino que cresce recebendo “alimentos nocivos”, pode ser altamente perigoso na sociedade e vir a explodir e causar o maior estrago.
Mas voltemos a pergunta inicial de Jesus: - Quantos pães tem? Local deserto, sem nenhum Mcdonalds por perto, relva, muitas pessoas famintas, umas 5 mil e, Jesus ensinando.  Sim... adoro observar o mestre. Gosto muito de ver a educação desvinculada da religião, respeitando-se o credo de cada um, mas eu, particularmente, não consigo de forma alguma me desvincular de Jesus. Ele é o maior professor. E quando penso em salvação, só consigo pensar em educação. Às vezes espiritualizamos demais as coisas e perdemos a essência principal a qual Jesus quis nos compartilhar o tempo todo: - desativar a bomba que tem dentro de cada coração curando-os, distribuindo doses maciças de amor, inclusividade, ensinando a ver além dos muros e instigando-os a perceberem o potencial que cada um tinha dentro si - Grande Salvação!  Não é essa a função do professor?
Faz alguns dias que fico com alguns textos bíblicos saltitando na minha cabecinha e enquanto eu não escrevo, eles ficam pulando, pulando, feito pipocas, até eu escrever. Acho que esse é o meu pão e peixe. No sábado, escrevi o texto: - Gentalha, gentalha, gentalha referente à Natanael aquele que é convidado para seguir Jesus e faz um comentário meio xenofóbico. Se ficou curioso, clique aqui.
Voltando à educação.  Desativar homens bombas é mostrar que todo menino tem dons e habilidades e direcioná-los para o bem. Esse é o papel da educação.
Sou formada em Letras, mas curto demais trabalhar com a cultura digital dentro de uma Ong, pois tenho essa flexibilidade em inovar na educação. É nesse contexto, com meninos em situação de vulnerabilidade social imensa é que procuro extrair o que eles têm de melhor, e mostrar que eles têm valor, por isso, não me limito a ensinar-lhes simplesmente a mexer em computadores. Já os envolvi em projetos de leitura, e  em projetos onde gentileza gera gentileza. Dou-lhes reforço escolar através de um portal muito legal chamado “Mentes Notáveis”, onde matriculo uma turma de 20 alunos em séries diversas, porque tem gente que mal consegue escrever o nome e outros já são bons leitores e assim,  conseguem acompanhar o conteúdo, cada qual no seu passo e isso potencializa a sua autoestima. Já os ensinei programação e alguns deles gostaram tanto que foram procurar cursos mais avançados nessa área, também oferecidos pela Ong.  Nunca esqueço de ensiná-los a compartilhar conhecimento e a ajuda mútua através da minha famosa pasta de jogos cooperativos (que nada mais é que uma seleção dos meus escapes games prediletos que envolvem muita percepção e lógica). Ensino-lhes a construir robôs com kit lego e programa-los. Já escrevi roteiros e encenei pequenas peças e detectei talentos preciosos no teatro e tenho um sonho que minhas meninas atuem nessa área. Já trabalhei com edição texto, slides e de imagens (GIMP), até na área musical os incentivei a criar junto com o especialista em música. Dia desses vi um deles dançando e fiquei o motivando-o para prosseguir, para ver se dali saía alguma coisa bacana. Estou sempre à procura de um menino que tenha os 5 pães e 2 peixinhos, na minha multidão de meninos e fazer com que se multiplique. Essa é a missão do professor - achar no grupo alguém que produza vida,  e que multiplique em alimento. Isso é desativar homens bombas.
Na minha cabecinha, ao ler esse texto dos pães e peixes, vi uma mãezinha preparando o lanchinho para o seu menino: aquele que vai alimentar uma multidão. Eu sei que nem sempre os meus meninos da Ong têm uma mãezinha para lhes preparar o lanchinho, por isso, a gente tem um olhar especial para eles, mas quem tem, queria deixar um humilde conselho no preparo de um lanche saudável:
- Ensinem esses meninos a respeitarem seus mestres e a valorizarem a educação. Pais, sejam parceiros e confie no trabalho desses profissionais, não exigindo perfeição, mas sabendo que eles têm algo para agregar na vidinha de seus meninos.  Eu lembro que na época em que meus meninos iam à escola, às vezes discordava de uma determinada metodologia. Chamava a professora de canto, explicava meu ponto de vista discretamente e educadamente e tentava chegar a um acordo. Foram raras as vezes que isso aconteceu, mas NUNCA falei mal de um professor para meus filhos, pois o amor pelo aprendizado inicia-se  com o  honrar ao seu mestre.
- Ensinem esses meninos a viverem em sociedade, respeitando as diferenças. Ensine-lhes a serem pessoas de bem e que o mundo não gira em torno dele.
- Não deem muitas coisas para eles, para que não se percam. Ensine-os a ser e não a ter. Deem o essencial, que nem sempre é visível aos olhos. Uma dica: - Tente conhece-lo. É fundamental. Por isso, sente-se com ele sempre que puder para uma comidinha, um passeio, um bate papo, um jogo, uma leitura de um livro junto. Invente.  São nesses pequenos encontros, quase extintos pela correria do dia, que a gente acaba percebendo a particularidade de cada um.
- Plante a educação no coração de sua criança. Ela vai brotar, ela vai salvar.
Na sociedade de hoje tenho visto muitas mãezinhas preparando um lanchinho venenoso para seus filhos com ingredientes do ódio, da falta de respeito, da divisão, do racismo, da discriminação, da xenofobia, da homofobia e isso é tão nocivo na educação e mais ainda para a sociedade.  Mãezinhas, imploro: preparam “lanches” saudáveis para seus meninos.
Ainda ontem, eu assisti ao filme do Menino que descobriu o Vento.  Esse menino africano do Maláui, através da escassez, da fome, conseguiu fazer brotar de dentro de si os seus 5 pães e 2 peixinhos e pode oferecer a salvação de vidas ali na sua comunidade.  A escola o rejeitou por falta de dinheiro, mas a educação já estava plantada há muito tempo em seu coração e quando ela brotou, causou uma revolução tremenda, porque a semente era boa. Caso contrário, poderia explodir e virar o caos, que é o que temos visto em nosso país, tantos meninos indo para o caminho mais fácil da criminalidade, pois a semente plantada talvez não tenha sido boa e o alimento produzido é ruim.

Vamos plantar educação no coração dos nossos meninos?  Conto com todos: pai, mãe, avós, tios, professores, gente de bem. Vamos desativar homens bombas?

Lina Linólica 04/03/2019

Para adquirir meu livro pela amazon :  ebook   // versão impressa









Um comentário:

  1. Amiga, sua reflexão é inspiradora, principalmente aos jovens educadores que estão iniciando e com muitos desafios pela frente. O ensinamento e uma construção diária, é despertar um novo olhar para um mundo complexo, em que as transformações iniciam no interior de cada ser, somente assim, teremos uma sociedade sadia e humanizada. Como disse: desarmar homens bombas e semear a educação!
    Parabéns!

    ResponderExcluir