Na década de 80 foi criado um slogan que dizia: Vem pra caixa você também! Na verdade, era para você ser cliente de uma instituição financeira... Hoje, eu fiquei meditando sobre as nossas caixas, daí aproveitei o slogan no inverso.
Tinha um homem que ficou boa parte de sua vida, 38 anos sentado, olhando talvez para uma pilastra, dentro de uma grande caixa, esperando as águas se moverem. Um dia, Jesus passa por esse homem, dá-lhe uma ordem para se levantar, pegar a sua cama e sair andando. E assim ele faz... Ele era paralítico e foi curado. Ele saiu da sua caixa e se pôs a caminhar, talvez ainda incerto e sem metas, sem alvos. Jesus novamente encontra com ele e diz: - Não peques mais para que isso não aconteça novamente...
Esses personagens bíblicos que viveram em épocas tão distantes, tem características tão semelhantes às nossas.
Às vezes, me sinto como esse homem. Tão travada em meus movimentos. Dentro de uma caixa: que é minha casa, meu carro, meu trabalho, a comunidade que frequento, essa é minha zona de conforto. Ficamos nessa zona de conforto, mas nosso querido Jesus diz: - Sai da caixa! Vai! Levanta, toma tua cama e anda. Vai ter sonhos, vai ter metas. Não deixe de sonhar, não entre na zona de conforto, nessa rotina paralisante, a qual a vida acaba passando tão despercebida aos nossos olhos.
Hoje, dei saída da minha caixa para espiar a vida. Saí de à pé pelas ruas de Osasco e vi:
- Casas tão fechadinhas, cheia de proteções com medo da violência que infelizmente assola essa cidade. Alguns cachorros presos, pobrezinhos, latindo desesperadamente para talvez chamar a atenção.
- Árvores floridas. É primavera e as cores dessas árvores são de encher os olhos da gente de gratidão. Tinha árvores frutíferas como amoreiras e mangueiras que atraiam sanhaços, bem-te-vis e periquitos. Eu juro que hoje eu vi os três.
- No meio do caminho tinha uma praça. No meio da praça tinha homens aposentados que conversavam ao lado de uma roda de pombas que disputavam farelos de pão recentemente jogados ali.
- Ainda na praça tinha uma jovem gari que varria as folhas com esmero, deixando-a mais bonita, em contraste com o velho sofá e muitos entulhos que alguém deixou ali para enfeiar a praça.
Continuei a caminhar pelas vielas, rumo a feira de quinta-feira tinha um grande bonito muro, recém pintado com desenhos de grandes blocos amarelos. Uma senhora, que passava por ali, sorriu para mim e disse: - Que lindo que está esse muro, quanta criatividade. Se todos a usassem assim! Eu sorri para ele e pessimistamente pensei: - Pena que vai durar tão pouco tempo. Logo os pichadores virão e detonarão aquela obra de arte. E meu pensamento fez um link para um sorriso muito especial que presenciei ontem:
Na Ong onde trabalho, foi decidido que todo primeiro dia do mês, as aulas sejam ministradas pelos alunos maiores (13 e 14 anos). Esses adolescentes tem uma defasagem muito grande no contexto escolar, Eu os acompanho com as disciplinas português e matemática, através de um portal educativo e sei da grande dificuldade de cada um e tento ajudá-los como posso, mas é um trabalho que os resultados são bem morosos, mas enfim, ontem foi dia de um deles ministrar a aula. Eu perguntei para ele:
- Qual é o tema da sua aula?
Ele respondeu: - Vandalismo!
E o que vai fazer?
- Vou pegar um vídeo no youtube, passar e e depois falar com eles.
Ele procurou o vídeo, pediu para que eu colocasse no telão. Eu preparei tudo e quando estava pronto, os alunos menores entraram na sala e eu fiquei de canto observando.
Ele, na mesa central disse:
- Hoje vamos falar sobre o vandalismo. Vamos ver um vídeo!
Deixou o vídeo rodar por uns 3 minutos e parou (eles não tem muita paciência)
- Na sua escola tem vandalismo?
E os meninos e meninas começaram a contar rapidamente dos episódios acontecidos.
- Agora a gente vai fazer um jogo da pasta de jogos! É o número 32 (era da minha pasta de jogos que uso nas aulas que não tem internet)
E os meninos e meninas obedeceram e começaram a fazer o jogo 32. Ele caminhava orgulhosamente entre os computadores olhando se todos estavam fazendo. Fez a chamada e sentiu-se muito feliz em fazer algo. Foi uma expressão de felicidade tão grande que marcou a minha mente.
Confesso que não foi uma grande aula, mas para ele foi o máximo e eu o elogiei ao término da mesma. Penso que foi um dia marcante para esse aluno.
São essas marcas que nos propulsionam a caminhar.
São essas marcas que nos fazem reflitir na vida.
E quando dei por mim, eu já estava na feira... dando risada dos feirantes que zombavam dos candidatos políticos que ali distribuiam seus santinhos.
Voltei para minha caixa. Afinal, tenho que preparar um bom almoço para os meus queridos.
Acho que a grande pegada da vida é fazer com que as pessoas andem. Não sejam atrofiadas em seus movimentos. Jesus veio para isso... e acho que ele quer isso de nós.
terça-feira, 28 de julho de 2015
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Ahhh essa geração MIMIMI
Não lembro bem ao certo, mas ele, quando era vivo, nos
contou algumas vezes essa história, que aconteceu nas décadas de 40 ou 50 e que
para mim foi o maior ato heróico, que
carregarei para sempre eu meu coração. Meu pai, ainda jovem, solteiro, baiano, cabelo pixaim, mulato, hoje diria um
afro descendente, era servente de pedreiro e analfabeto. Saiu do interior da
Bahia e veio tentar a sorte em São Paulo. Trabalhava nas construções civis e morava
nos alojamentos que a construtora oferecia. No dia de receber seu salário, a
pessoa responsável zombava de todos dizendo: - Esses baianos burros, analfabetos,
nem sabem escrever, seus burros!!! Vai, enfia o polegar na almofada do carimbo coloca no
recibo. Meu pai dizia que era humilhante,
ouvir esse tipo de zombaria mensalmente e ter que enfiar o dedo naquela
almofada.
Ele poderia ter pego essa humilhação e ter as seguintes
atitudes: se prostrar, desistir, reclamar, chorar, jurar vingança àquela pessoa, xingar o país, ou apenas ter se conformado por ser negro,
nordestino e esse era o seu destino. Mas ele simplesmente resolveu mudar essa
situação por conta própria.
Um dia, andando pelas ruas, descobriu uma escola e
matriculou-se num curso noturno. Sua professora era uma senhora de traços
orientais que lhe ensinou as letras e a escrever seu nome.
No mês seguinte, o funcionário veio com as mesmas zombarias.
Meu pai disse:
- Por favor! Dê-me uma caneta. Eu quero assinar meu nome! E
assim, ele assinou seu nome no recibo, deixando aquele funcionário boquiaberto
murmurando entre si: - Como assim? No
mês passado você não sabia e agora nesse mês você já sabe? E assim, meu pai nunca mais usou aquela
almofada de carimbo para assinar seu nome com o polegar;
Foram apenas 3 meses naquela escola, pois a obra terminou e
meu pai teve de deixar a cidade e a escola, com grande pesar. Mas nesse curto
período aprendeu a ler, a escrever e a fazer contas.
Com a minha mãe não foi diferente. Às escondidas do meu avô, ela aprendeu as
letras e a escrever seu nome. Foi apenas uma semana, talvez 15 dias. Naquela época, era quase proibido estudar.
Meus pais se rebelaram contra o analfabetismo e de maneira
simples nos educou, mas com tamanha eficiência que sou grata até hoje e que
causaria inveja a qualquer Vygotsky, Piaget ou Paulo Freire:
- mamãe era exímia contadora de histórias;
- papai sempre que possível nos alimentava com livros e
revistas, embora não soubesse ler com muita fluência;
- meus pais nos deram o essencial – amor, alimentação, algumas
roupas e moradia e com isso talvez tenham se privado de muitas coisas, porém,
se quiséssemos qualquer coisa, tínhamos que conquistar com nosso trabalho;
- meus pais foram exemplo de solidariedade – ajudando muitos
parentes a se estabelecerem aqui em São Paulo... minha casa parecia um
verdadeiro albergue;
- meus pais foram um exemplo de honestidade. Mesmo com
dinheiro precário, nunca vimos cobradores bater em nossa porta.
A forma como eles conduziram a nossa educação foi tão
preciosa, que procurei adotar algo semelhante com os meus filhos e os
resultados foram bem eficazes. São
atitudes simples, mas geram resultados eficientes. Dia desses, ouvi alguém dizer que as cartilhas
eram preconceituosas, pois só tinha criança branca, que para se ensinar
dígrafos usava a palavra dromedário e isso não fazia sentido para o brasileiro
e assim fomos reformulando, rebuscando e reformulando... é claro que sou a
favor da evolução, mas o que percebo é que no pacote vem muito protecionismo e isso não gera "anti-corpos." Tudo agora é bullyng ou
TDAH ou dá-lhe Ritalina. Vejo crianças sendo protegidas em demasia, crianças
que não sabem ouvir um não, crianças que não podem ser frustradas, pior, que ultimamente não se limita apenas às crianças, mas a adultos, os quais eu classifico-os
como os adultos Mimimi da geração facebook que se acham perseguidos,
excluídos. Quando vejo tudo isso e presencio essas infantilidades, penso nos meus pais, que em meio a todas essas adversidades que eles
tiveram, não se renderam, mas saíram fortalecidos e com apenas ATITUDES, TRABALHO
E ESFORÇO construíram um patrimônio não de bens, mas de VALORES que quero
partilhar com meus filhos e netos.
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