Perguntou ele:
"Quantos pães vocês têm? Verifiquem".
Quando ficaram
sabendo, disseram: "Cinco pães e dois peixes".
Marcos 6:38
Um dia, em uma dinâmica com um grupo de professores, minha coordenadora nos perguntou mais ou
menos assim: - Qual é o papel do educador na escola? Todas educadoras deram
suas respostas politicamente corretas e a minha foi a mais estranha:
- Desativar homens bombas. Ela arregalou os
olhos como se dissesse: - oi? Como assim?
Como era uma dinâmica e a coisa
tinha que fluir rapidamente, apenas disse: - foi isso mesmo que você ouviu: -
desativar homens bombas. E segui o fluxo.
Às vezes, penso que ela me acha
meio doida. Mas não consigo ser diferente. Tenho inquietações constantes na
área da educação, porque é algo urgente e um menino que cresce recebendo “alimentos
nocivos”, pode ser altamente perigoso na sociedade e vir a explodir e causar o
maior estrago.
Mas voltemos a pergunta inicial
de Jesus: - Quantos pães tem? Local deserto, sem nenhum Mcdonalds por perto, relva,
muitas pessoas famintas, umas 5 mil e, Jesus ensinando. Sim... adoro observar o mestre. Gosto muito
de ver a educação desvinculada da religião, respeitando-se o credo de cada um,
mas eu, particularmente, não consigo de forma alguma me desvincular de Jesus.
Ele é o maior professor. E quando penso em salvação, só consigo pensar em
educação. Às vezes espiritualizamos demais as coisas e perdemos a essência principal
a qual Jesus quis nos compartilhar o tempo todo: - desativar a bomba que tem dentro
de cada coração curando-os, distribuindo doses maciças de amor, inclusividade, ensinando
a ver além dos muros e instigando-os a perceberem o potencial que cada um tinha
dentro si - Grande Salvação! Não é essa
a função do professor?
Faz alguns dias que fico com
alguns textos bíblicos saltitando na minha cabecinha e enquanto eu não escrevo,
eles ficam pulando, pulando, feito pipocas, até eu escrever. Acho que esse é o meu
pão e peixe. No sábado, escrevi o texto: -
Gentalha, gentalha, gentalha referente à Natanael aquele que é convidado para
seguir Jesus e faz um comentário meio xenofóbico. Se ficou curioso, clique
aqui.
Voltando à educação. Desativar homens bombas é mostrar que todo
menino tem dons e habilidades e direcioná-los para o bem. Esse é o papel da
educação.
Sou formada em Letras, mas curto
demais trabalhar com a cultura digital dentro de uma Ong, pois tenho essa
flexibilidade em inovar na educação. É nesse contexto, com meninos em situação
de vulnerabilidade social imensa é que procuro extrair o que eles têm de
melhor, e mostrar que eles têm valor, por isso, não me limito a ensinar-lhes
simplesmente a mexer em computadores. Já os envolvi em projetos de leitura, e em projetos onde gentileza gera gentileza. Dou-lhes reforço escolar
através de um portal muito legal chamado “Mentes Notáveis”, onde matriculo uma
turma de 20 alunos em séries diversas, porque tem gente que mal consegue
escrever o nome e outros já são bons leitores e assim, conseguem
acompanhar o conteúdo, cada qual no seu passo e isso potencializa a sua autoestima.
Já os ensinei programação e alguns deles gostaram tanto que foram procurar cursos
mais avançados nessa área, também oferecidos pela Ong. Nunca esqueço de ensiná-los a compartilhar
conhecimento e a ajuda mútua através da minha famosa pasta de jogos cooperativos
(que nada mais é que uma seleção dos meus escapes games prediletos que envolvem
muita percepção e lógica). Ensino-lhes a construir robôs com kit lego e programa-los.
Já escrevi roteiros e encenei pequenas peças e detectei talentos preciosos no
teatro e tenho um sonho que minhas meninas atuem nessa área. Já trabalhei com
edição texto, slides e de imagens (GIMP), até na área musical os incentivei a
criar junto com o especialista em música. Dia desses vi um deles dançando e
fiquei o motivando-o para prosseguir, para ver se dali saía alguma coisa
bacana. Estou sempre à procura de um menino que tenha os 5 pães e 2
peixinhos, na minha multidão de meninos e fazer com que se multiplique. Essa é
a missão do professor - achar no grupo
alguém que produza vida, e que multiplique em alimento. Isso é desativar homens bombas.
Na minha cabecinha, ao ler esse
texto dos pães e peixes, vi uma mãezinha preparando o lanchinho para o seu
menino: aquele que vai alimentar uma multidão. Eu sei que nem sempre os meus
meninos da Ong têm uma mãezinha para lhes preparar o lanchinho, por isso, a
gente tem um olhar especial para eles, mas quem tem, queria deixar um humilde conselho
no preparo de um lanche saudável:
- Ensinem esses meninos a
respeitarem seus mestres e a valorizarem a educação. Pais, sejam parceiros e confie
no trabalho desses profissionais, não exigindo perfeição, mas sabendo que eles
têm algo para agregar na vidinha de seus meninos. Eu lembro que na época em que meus meninos iam à
escola, às vezes discordava de uma determinada metodologia. Chamava a
professora de canto, explicava meu ponto de vista discretamente e educadamente
e tentava chegar a um acordo. Foram raras as vezes que isso aconteceu, mas
NUNCA falei mal de um professor para meus filhos, pois o amor pelo aprendizado
inicia-se com o honrar ao seu mestre.
- Ensinem esses meninos a viverem
em sociedade, respeitando as diferenças. Ensine-lhes a serem pessoas de bem e
que o mundo não gira em torno dele.
- Não deem muitas coisas para eles,
para que não se percam. Ensine-os a ser e não a ter. Deem o essencial, que nem
sempre é visível aos olhos. Uma dica: - Tente conhece-lo. É fundamental. Por
isso, sente-se com ele sempre que puder para uma comidinha, um passeio, um bate
papo, um jogo, uma leitura de um livro junto. Invente. São nesses pequenos encontros, quase extintos
pela correria do dia, que a gente acaba percebendo a particularidade de cada
um.
- Plante a educação no coração de
sua criança. Ela vai brotar, ela vai salvar.
Na sociedade de hoje tenho visto
muitas mãezinhas preparando um lanchinho venenoso para seus filhos com
ingredientes do ódio, da falta de respeito, da divisão, do racismo, da discriminação,
da xenofobia, da homofobia e isso é tão nocivo na educação e mais ainda para a
sociedade. Mãezinhas, imploro: preparam “lanches”
saudáveis para seus meninos.
Ainda ontem, eu assisti ao filme
do Menino que descobriu o Vento. Esse
menino africano do Maláui, através da escassez, da fome, conseguiu fazer brotar
de dentro de si os seus 5 pães e 2 peixinhos e pode oferecer a salvação de vidas
ali na sua comunidade. A escola o
rejeitou por falta de dinheiro, mas a educação já estava plantada há muito
tempo em seu coração e quando ela brotou, causou uma revolução tremenda, porque
a semente era boa. Caso contrário, poderia explodir e virar o caos, que é o que
temos visto em nosso país, tantos meninos indo para o caminho mais fácil da
criminalidade, pois a semente plantada talvez não tenha sido boa e o alimento
produzido é ruim.
Vamos plantar educação no coração
dos nossos meninos? Conto com todos:
pai, mãe, avós, tios, professores, gente de bem. Vamos desativar homens bombas?
Lina Linólica 04/03/2019