Nesse sábado, com toda essa crise da “gasolina”, estava
quietinha em casa, prestes a começar o almoço, quando ouço alguém bater em meu
portão.
O Dedé abriu a porta meio contragosto logo pensando ser uma
testemunha de jeová, mas e eu o interceptei no caminho e disse que atendia.
Já fui com o meu discurso pré-fabricado de que não tinha
interesse em adquirir nada. Afinal, minha rua mais parece um camelódromo
ambulante. Pior que eles invadem minha casa com musiquinhas ou jargões
irritantes: É o gás, é a cândida, é o churros, é a pizza, são os ovos, é o pão
caseiro, é a pamonha, etc, etc, etc. E
nesse sábado, quase nenhum deles apareceu. A rua estava maravilhosamente
silenciosa. Mas lá estava uma senhora de uns 60 anos talvez, parada
na frente no portão, com um carrinho de
feira, encapado com um plástico verde florido, jaleco branco, pele dourada pelo
sol, cabelos semi-grilhados,
cuidadosamente penteados para trás e um largo sorrido. Ela se apresentou por
Tereza, querendo alguns minutos de minha atenção.
Já estava prestes a declinar, dizendo não ter interesse em
comprar nada, mas a curiosidade falou
mais alto e fui ouvir qual era o negócio dela. Porém, com o meu discurso na manga de que não compro
essas coisas de vendedor ambulante por causa da procedência e etc.
E ela, como conhecesse meu discurso já foi logo dizendo, que
não tinha hábito de comprar coisas na rua por conta da procedência, mas que o
trabalho dela era diferenciado, que fazia com esmero. Que atendia algumas
pessoas dali do bairro, clientes antigas. Foi descrevendo o seu produto com
tanta propriedade que aquilo me chamou a atenção. E eu acabei a sabatinando,
perguntando o que ela usava, há quanto tempo trabalhava com aquilo e etc... E
ela foi respondendo com muita convicção e amor por aquilo que fazia. Fui
guardando o meu discurso no bolso e continuei a ouvindo. Disse que criara os
filhos cozinhando para fora e contando as técnicas de cozinha, e etc. Em nenhum momento ela se usou de
vitimismo, do tipo, compre para me ajudar, meus filhos passam fome, etc... Mas foi confiante em seu trabalho. É claro
que não resisti e comprei os produtos dela, que eram coxinhas, croquetes de carne seca e bacalhau e que estavam bem embalados e bem refrigerados.
E não eram baratos não. Mas o que me
marcou na Tereza foi a atitude e uma das coisas que ela disse foi: - o pobre
quando vê a crise vai trabalhar e é o que estou fazendo, mas o rico quando vê a
crise e vê que não tem solução, vai se matar.
- Faça o seu trabalho sem estardalhaço, e confie no seu potencial.
- Barulhos e gritarias só irritam!!! Eu não compro nada de gente que fica me aporrinhando na porta da minha casa com carro de som alto. Pior que acho que o povo brasileiro já se acostumou tanto com esse tipo de gente, que fala demais, discursa demais, se vitimiza demais, é mimimi demais... mas para mim, não serve.
- Se faltar gasolina, pegue o seu carrinho de feira é vá. Na verdade, improvise. Diante da crise, seja criativo. Trabalhe e confie no seu negócio.
- Um sorriso, uma boa apresentação é um bom começo. Não precisa ser belo, mas que denote credibilidade.
- Cenas assim são pequenas pérolas de aprendizado, temos que estar abertos para aprender e é por isso que resolvi descrever Tereza.
- Queria que o povo brasileiro fosse mais cético, não tão místico, sabendo que não existe magias ou salvadores da pátria. Por mais Terezas que tentam fazer o seu trabalho com dignidade e honestidade. Com sobriedade, com seriedade e conhecedores do seu negócio.
Mas e a greve dos caminhoneiros? Penso que ela se faz necessário para que esses políticos sanguessugas acordem e se situem que esses impostos são abusivos e que a forma de administrar esse país já deu, tá o caos. Mas e o Brasil? tá doente demais!!! Mas que se levantem mais Terezas para ver se tem cura.