Se você entrou aqui pensando em
ler alguma sacanagem, pode ir saindo, pois essa postagem não tem essa finalidade (risos).
No facebook sempre tem algum
assunto que se viraliza: O primeiro foi um
menino destruindo uma escola e a segundo sobre
o perigo de alimentar-se de carnes processadas, dentre elas a salsicha. Quero
começar minha defesa em prol da salsicha e depois a gente associa com o menino.
Às vezes, tento relembrar minha
infância e a mais remota talvez tenha acontecido no ano de 1969: " Era uma imensa fila do INPS, não lembro como
chegara até ela, com certeza foi de ônibus, mas esse trajeto todo foi apagado
de minha mente. Também não lembro o que eu fora fazer lá, talvez fosse para
passar em algum médico, isso também foi apagado de minha mente. O que realmente ficou gravado foi a imagem de um homem albino que vendia
cachorros quentes, através desse diálogo:
- Eu vou querer um completo e
divide ao meio, porque elas são pequenas e não conseguem comer um inteiro.
Dizia minha mãe.
- Eu consigo comer um inteiro
mãe, eu juro que consigo. Dizia eu.
- Fica quieta menina. Não
consegue não!
O homem sorria com suas faces avermelhadas
pelo sol diário e cabelos brancos carapinha e preparava com esmero nosso
cachorro quente. Mamãe pagava a valor combinado, e saia com os dois pedaços daquele
lanche. Dava metade para mim e a outra
metade para minha irmã. Ela justificava ao vendedor que não gostava de comer
nada na rua, mas desconfio que ela nunca comeu um cachorro quente na vida.
Eu devia ter uns 4 anos e minha
irmã uns 10 anos. Eu comia o meu pedaço
bem devagarinho, tentando degustar bem, pois para mim era o melhor sabor que
existia no mundo. A mostarda e a salsicha eram deliciosos, sensacionais,
fenomenais."
Para mim, infância feliz tem gosto de cachorro
quente.
Confesso que ainda busco aquele
sabor, busco pela cidade o senhor albino com o seu carrinho de cachorro quente.
São mais de 45 anos de busca. Se alguém
souber do seu paradeiro me avise, nesse ínterim comi centenas de outros
cachorros quentes, mas nenhum com aquele sabor, porém desconfio que se eu acha-lo, a magia venha a se perder no tempo e no espaço.
Esse episódio do cachorro quente
me fez pensar em duas coisas:
1) Falta
sinestesia na infância hoje em dia
Acho muito importante a infância ter essa sinestesia – cores, sabores,
cheiros, músicas e toques. Só que eu ando meio assustada, pois parece que
isso tem se perdido. Parece-me que a infância está plastificada nas telas, telinhas
e telões. Momentos, são momentos... não dá para plastificá-los ou prendê-los numa
tela de smarthphone. Essas sensações
estão sendo trocadas pela exposições e que
isso tem gerado um pequeno pane destrutivo na nossa humanidade. Será que a
infância das nossas crianças não tem sido “plastificada”? Eu li vários comentários dizendo que o
garotinho precisava era de uma surra... mas acho que vai muito mais além, ouso dizer que esse garotinho não está sozinho. Está sendo
formado um exército de garotinhos que fazem birras por algo que nem sabem o que
querem, vou usar um termo dentro da minha concepção é nova: está se formando uma
nova geração de crianças estressadas. Digo isso com propriedade, pois acompanho o desenvolvimento de crianças, já que desde
1999 estou na educação digital e,
realmente, tenho me assustado com essa
nova geração. Acredito que tem excesso virtual e falta a essência verdadeira: o
toque, o aconchego, o amparo, a oração, o colo, o diálogo, o sabor da comida gostosa, a música
acalentadora, o cheiro da natureza, a cor da família.
Eu queria um quente
cachorro inteiro, minha mãe só deu uma metade. É claro que naquela época era um
problema financeiro e minha mãe se privava de comer para dar para a gente, mas essa limitação financeira
foi extremamente benéfica para nos fazer
feliz. Gerou dentro de mim uma expectativa de que
quando eu voltasse no INPS ganharia mais cachorro quente. Na verdade,
foi gerado dentro da gente essa valorização, essa expectativa positiva,
esse desejo de nos superar. Não tínhamos nada de “mãos beijadas”. Tudo tinha
seu preço, o inverso do que é hoje, onde tudo muito gratuito. As crianças não
pagam preço por nada. Não estão sendo geradas expectativas. Todo o pedido é realizada como um passe de mágica. – É a geração
que odeia esperar, tudo fastfood: - Quero ir ao Mac Donalds! Quero comer
batatas fritas todos os dias! Não quero estudar, quero apenas brincar! Quero um
tablet! Enjoei do tablet, quero um smartphohne! Quero coisas e mais coisas e quando eu não tenho, eu destruo, faço birra. Daí compramos, abarrotamos nossas crianças de coisas. Todo esse excesso de coisas tem feito mal as nossas crianças, assim como o
excesso de salsicha pode ocasionar um câncer. Fica a dica!
... concluindo
Lina Linólica
0utubro/2015