Lembrar-se da infância é muito gostoso. Éramos muito pobres, mas nem por isso tive uma infância infeliz, pelo contrário, éramos muito felizes. E foi naquela década de 70, em plena ditadura militar que vivi a minha infância.
1) Eu sonhava que era construtora. Pegava tijolos, pedras e plásticos e construía uma casinha. Colocávamos lá dentro alguma coisa. Esperávamos a chuva. Se molhasse o objeto que estivesse lá dentro éramos ruins, caso contrário, éramos boas construtoras. Bons tempos esses, quando chovia bastante.
2) Eu tinha inúmeras coleções de tampinhas. Meu pai era operário em uma fábrica de tampinhas e sempre trazia alguma novidade de lá. Tampinhas com a turma do Walt Disney, com jogadores de futebol e outros. Minhas tampinhas eram meu tesouro. Ainda lembro delas com carinho. Eu sei que eu não as joguei fora... mas acho que sei quem foi...rs
3) Eu construí um carrinho de rolimã. Era muito gostoso ter aquela sensação de liberdade, descendo pelas ruas de meu bairro. Ele não durou muito tempo... desapareceu misteriosamente e acho que sei quem foi que deu o sumiço nele... rsrs
4) Eu vendia Avon, Cristhian Gray e tudo o que aparecia pela frente e para todo mundo que cruzasse em minha caminho. Naquela época não existiam mesadas, então a gente tinha que se virar como pudesse.
5) Eu gostava mesmo era das festas de final de ano na fábrica onde meu pai trabalhava. Ganhávamos presentes incríveis e tinha guaraná à vontade com muita coisa gostosa. Nunca esqueço do cheiro do churrasco e das barquinhas de maionese. Só que os presentes eram distribuídos apenas até uma certa idade... Eu fiquei muito triste quando eles deixaram de me presentear...
6) Eu me escondia no alto da goiabeira para fugir das broncas da minha mãe quando eu aprontava. Aliás, eu subia nos telhados e muros. Acho que eu era uma menina muito peralta.
7) Tivemos vários cachorros, mas o meu predileto era o Prei (derivou-se da palavra Playboy que usávamos para designar meninos mais ricos e pedantes). Não sei porque, já que o Prei era um simpático cão pretinho e muito vira-lata.
8) Todos os domingos meu pai dava duas moedinhas para a gente. Uma era para entregar na sacolinha da missa e outra era para a gente comprar um doce. Eu sonhava com o término da missa para gastar minha moedinha na venda do Dito.
9) Comi o meu primeiro iogurte quando uma professora de minha irmã pediu os potinhos para fazer um trabalho escolar. Odiamos aquele negócio branco com gosto de cola. Só não sabíamos que mamãe tinha comprado o iogurte natural.
10) Fiquei com inveja de minha irmã quando ela teve que operar das amídalas e a médica recomendou que ela tomasse sorvete. Então o sorvete era para ela... Por anos quis operar das amídalas, mas elas nunca apresentaram um problema sequer.
11) Eu amava quando era verão e apareciam os siriris petecas. Sei lá... dava uma felicidade de ver aquele monte de bichinhos voando felizes. Hoje, tenho trauma deles depois que invadiram a porta da minha casa de fizeram ninho lá.
12) E por falar em trauma... eu comprei uma bandeja de Yakult escondida da minha mãe com o dinheiro que ganhei vendendo produtos. Tomei ela inteirinha escondida. Acho que lactobacilos vivos fizeram a festa no meu estômago e passei muito mal e vomitei muito. Até o hoje não posso ver Yakult na minha frente.
13) Eu amava brincar de "tobogã" com um tapete de limpar o pé na porta da área que ficava próxima a sala. Na verdade, minha mãe encerava aquela "areazinha" que para mim era imensa... eu dava impulso com os pés e alcancava de uma extremidade para outra. Dia desses visitei essa minha casa e constatei que ela era muito menor que nas minhas memórias, já que nos meus olhos de criança era um verdadeiro "playcenter".
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