quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Sou uma mãe pela diversidade

 Em 1983, no ano em que decidi prestar vestibular e fui comunicar a decisão para o meu pai, ele disse: - Onde já se viu isso? Mulher tem que trabalhar, guardar dinheiro pro enxoval e depois casar. Você não tem meu apoio!

Eu, com a minha rebeldia adolescente, dei com ombros, trabalhei feito um camelo, passei até fome, e concluí minha graduação.  


Hoje, quando olho para o passado e lembro-me desse episódio, não me traz dor, apenas empatia por meu pai. Ele aprendera que tinha que  ser assim. Era o que estava dentro de seu campo de visão. No seu limite de aprendizado ele tentou me aconselhar. Tinha dado certo com minha irmã do meio e comigo deveria ser igual.  Não se mexe em time que está ganhando.


É claro que fiz diferente com meus filhos. Educação evangélica, leitura, jogos de lógica, mochilões.

Daí eu volto para o passado e olho pra mim educando meus filhos. Eu aprendi que tinha que ser assim. Era o que estava no meu campo de visão. Tinha dado certo com tantas famílias. Não saiu bem do jeito que eu achava que tinha que ser. Ele era diferente.


Não dá pra seguir um padrão.


Mãe pela diversidade


Há um ditado popular que diz:

Mãe é tudo igual, só muda o endereço.

É claro que toda regra tem exceção.

Mas filho não é tudo igual

Filho é especial, é único.

Como pode isso?

Mistérios do Criador.

Eu mesma, tive dois filhos

Tão diferentes, tão diversos.

Tão capazes de me salvar do meu

Egoísmo pueril, "das minhas certezas viscerais"

Eles foram chegando de mansinho.

Frágeis, cheirosinhos, fofinhos.

E um chip de "instinto leoa de proteção"

Foi implantado em mim. 

É aquele que é implantado em quase todas as

 Mães que e nos deixam muito parecidas:

Passamos a proteger, cuidar, educar, doar

E  tentamos  oferecer o que temos de melhor -

Tão somente para eles.

E nessas "oferendas de vida"

Tentamos passar 100% de nós.

Mas o grande conflito está aí.

Eles têm vida própria.

Eles crescem com suas identidades

Eles podem ter semelhanças físicas,

Mas a personalidade, até mesmo a sexualidade é diversa. 

E foi nesse estágio que um dia me encontrei.

Estudando, entendendo, acolhendo.

Sou mãe de um filho gay, o mais velho.

É estranho eu abrir o armário da sua intimidade,

Mas precisava fazer isso. 

Ele estava morando na Finlândia, quando me confidenciou que era gay

Sorte ou azar a minha por ele estar tão distante. 

Na minha ignorância fui orar pela sua cura.

Mas Deus me mostrou que eu que era a doente nessa história.

E a minha cura aconteceu 

Passei a olhar para outras mães com empatia protegendo seus "rebentos"

Cada uma dentro da sua individualidade.

Antes eu conhecia Jesus de ouvir falar, mas meus olhos foram abertos 

E passei andar com Ele em sua inclusividade

Em seu amor pelos mais excluídos, talvez os 

órfãos dessa sociedade religiosa moderna de pais homofóbicos que 

"abortam" meninos gays.



Lina


24/09/2022



Notas:



  • Em 2018, um boom de fakes news sobre ideologia de gênero assolaram a igreja evangélica. Elas chegavam em "pencas" pela WhatsApp e eu recebi dezenas delas, mas nunca abria e deletava todas. Amigos e conhecidos estatelavam os olhos e diziam,   tem que votar no fulano para não entrar a tal ideologia de gênero e eu engolia a seco, pois tenho um  filho gay e aquele era um assunto que ainda não estava muito resolvido. Um dia,  tomei coragem, e  abri um desses videozinhos e aquilo virou o estômago, me deu cólicas, suadouro - era uma lavagem cerebral. E percebi que era aquilo que durante toda a minha vida ouvi nos bancos da igreja, por anos fui doutrinada pela minha religião que isso era pecado, inferno e chamas.  Eu tinha um jovem gay na minha casa e tudo o que ouvi dentro da igreja não fazia sentido, fui pesquisar, ler e orar sobre o assunto, pois até então repetia como um papagaio aquilo que ouvira minha vida inteira e no íntimo Deus foi ministrando a cura da alma. Foi aí que tive o senso de urgência em compartilhar minha trajetória, que se inicia com a minha base, a construção, a desconstrução e por fim a reconstrução.


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  • O compartilhamento desses vídeos fez crescer um  grupo enfurecido e fundamentalista em prol da família brasileira, isso é tão agonizante, pois jovens lgbt tem sido perseguidos e é o grupo que mais morre assassinado, vítimas da homofobia aqui no Brasil. Você já pensou nisso quando compartilha um vídeo desses ou concorda com eles sem ao menos pesquisar? Eu pesquisei alguns  e tenho um deles aqui nos meus arquivos. Fiz questão de mantê-lo. Um vídeo adulterado, cheio de ódio, de mentiras infundadas para causar repulsa em quem assiste, de uma malignidade imensa  e  sabe quem é prejudicado? nossos jovens lgbt. Quem compartilha isso, precisa urgentemente de arrependimento.


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