terça-feira, 5 de abril de 2011

AS DUAS MÃES - Um desabafo sobre a forma de educar na atualidade


Quando eu era menina, minha casa parecia um albergue. Papai, um bom baiano, sempre acolhia um parente necessitado da Bahia, o qual trabalhava por um período até se “firmar” e depois tocava sua vida. Eu contabilizei uns oito primos (as) que moraram com a gente por um determinado período.  O Valdo era o mais palhaço e um dia, durante o almoço soltou uma das suas graças:
- Por que baiano tem cabeça chata?
Meneávamos a cabeça e esperávamos uma resposta infame e lá vinha ela.
- É que “mainha”, todos os dias, ao ver o filho comendo o prato de pirão de farinha, dá uns tapinhas em sua cabeça e diz: - Come tudo “fiim”, que quando você crescer vai pra “Sumpaulo”.
Hoje, o pessoal politicamente correto ao ouvir essa piadinha, iria rotulá-la de xenofóbica e preconceituosa. Na verdade, essa piadinha está desatualizada. São Paulo não é mais o eldorado nordestino, tanto é que atualmente ocorre um processo inverso: muitos filhos de nordestinos retornam  às origens , pois determinadas cidades  estão  mais avançadas e promissoras do que essa Sampa saturada.
Dia desses, meu filho voltava da escola no trem, quando ouviu uma mãe dizer ao seu filho:
- Viu, filhinho como é bom ir à escola. Você ganha merenda, material escolar, uniforme. Você ganha tudo.
Duas mães. A mãe do passado e a mãe do presente.
Sinto saudades dessa primeira mãe do passado, que incentivava seu filho. Dava-lhe o “pirão com farinha” que era o que tinha.  E o menino tinha que comer, pois tinha uma promessa em cima disso: ir para São Paulo. Ele sabia que São Paulo não era lazer, mas era cidade do trabalho, do compromisso, da dedicação, da ascensão social, era um local de oportunidade de estudar e ser alguém na vida. A mãe ensinava para o filho tudo isso. A mãe ensinava o menino a pagar o preço, ou seja, a dar – dar o seu melhor para que a sociedade fosse beneficiada com o seu ato.
E o menino, que em meio às agruras e as dificuldades foi desafiado a ter sonhos, ter alvos de ser alguém melhor. Esse menino que teve uma mãe que o impulsionava para o sonho de ser alguém na vida. Sinto saudades desse menino e dessa mãe que eram focados em sua meta.
A segunda mãe é a mais comum nos dias de hoje.  O menino precisa ser feliz ganhando. Não quer que o filho passe pelas privações que ela passou. Protege o seu rebento dando-lhe de tudo o que necessita. O menino nem precisa estudar, basta comparecer a escola, que ganhará a merenda, o material escolar e até mesmo notas.  Ele não precisa se comprometer com os estudos, com a educação.  Para que se comprometer com o ensino?  Escola é chata demais.  E se o filho for contrariado, ela mesma vai a escola exigir os seus direitos.
E assim os meninos vão sonhando em receber, receber e receber. Receber um convite para jogar futebol - quem precisa de escola para jogar bola?  Receber um convite para entrar no BBB e ser modelo, ou vice-e-versa, pois quanto mais você matar a educação em sua aparição midiática, mais sucesso você terá.
E até os meninos ricos vão sonhando em receber, receber, receber. Receber presentes, IPads, celulares de última geração, tênis de marcas. Tem hora que não tem nem o que dar, pois já tem de tudo, exceto limites. E nessa hora, talvez se contentem em aprontar alguma atrocidade na av. Paulista ou na escola através do bullyng ou no seu computador através do cyberbullyng.
Ah... como eu queria que os pais ensinassem aos seus filhos sobre o dar, o compartilhar. Acho que o pior pecado da humanidade é o EGOísmo, ou seja, o EGO dominando suas vidas. E esses meninos que ganham, ganham, ganham, importam-se mesmo consigo mesmos e pouco se importam com os estão ao seu redor, ou seja, a sociedade.
O ato de compartilhar promove a salvação da humanidade e nos deixa menos mesquinhos. Então, que tal começarmos a ensinar esses meninos e meninos a compartilhar algo bom. Eu posso garantir que eles serão muito mais felizes dando, produzindo algo legal, do que apenas recebendo.
Lina Linólica

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